NUNCA FUI BOM COM AS PALAVRAS
Nunca fui bom com as palavras
O tom da garganta gritava
A mente clamava
Rabiscava alguns sentidos
Entendia outros gemidos
Nunca fui bem dito
Um cara meio esquisito, eu sei
Pensava que sabia, era tudo estribilho
Batia soneto, saia do samba e seguia cantando
Anotava as frases, esquecia da vida
Nunca soube o que dizer
Falava do que sentia
Estes ao menos, não resistia
Relia o texto, eram só conceitos
Revia e até ria da rima que rumava
Aprendi com sotaque
Eu de fato não entendia
Pra cada lida, uma cantoria
Pra cada verso, uma não repetia
Pra cada instante, um atenuante
Nunca fui bom com as palavras
Daquelas mal ditas, nem nas entre linhas
Daquelas com estrelinhas, lembro me até com simpatia
Daquelas que não disse, é melhor não recordar
Aprendi a contar
Nada de "dois pra lá, dois pra cá"
Marcava mesmo era o fim da festa
Dava um "ponto" e sem nota
Dançava na chuva esperando o canto chegar
Disse que não sabia
Por isto eu tanto ria
Daquilo que escrevia, um dia acontecia
Daquilo que aprendi, vi que a vida seguia, nada se repetia e de mal, eu nada temia.