SILÊNCIOS
Eu não sei mais o que fazer com essas palavras
insistentes sobre todo o espaço — e no telhado
oco da casa e dos rejuntes ásperos que me falam,
neste dialeto silencioso e mofado das argamassas,
de que é necessário suportar as dores bem calado,
tremendo entre as horas numa agonia dos diabos.
E pergunto o que muitos poetas já perguntaram:
acontece algo logo depois que a alma se desgarra
das vísceras, quando os cascos da morte cavalgam
nos hectares dos seus breus e dos seus penhascos?
Será que existe, de fato, a cor de um outro lado?
Ou não há nada e não vemos a luz que se apaga?
Vejo os espíritos. Eles sobrevoam a encruzilhada,
sussurram aqui, ali, acolá, bebem da sua cachaça
e dizem — o poema termina, mas nunca se acaba.