Ele acordou
Ele acordou
Atrasado
Sentiu o cheiro
Que invadiu o quarto
A música
De um rádio abafado da cozinha
Os movimentos foram rápidos
Banho
Barba
Prender os cabelos
Se vestir
Não daria tempo de tomar o café
Passou pela sala
Correndo
Olhou pra cozinha
O tempo parou
O poema se alongou
E devagar ficou
A fumaça saia lentamente
Do bule perfumando
Toda a casa
A música era alguma do Belchior
Por toda a casa
O gato cinza dormia preguiçoso
No pé da mesa
Pra quê a pressa?
Pra quê correr?
Pra quê deixar a vida correr de pressa?
Ela perguntou
Segurava a caneca de café fumegante
Dizia de costas pra ele
Olhando a janela
Deixando o sol lhe banhar
Ela se virou e sorriu
O beijo de café
Apenas confirmou
Que ele não precisava ter pressa
O que ele precisava estava ali
Beijo
E café
E uma promessa
De aproveitar a vida
E absorver esse longo poema
Essa longa vida
E a caneca de café fumegante...