Depois de morta

Ainda mesmo depois de morta

A poesia assombrará nossos silêncios

Como coisa ida ou tida, passada, extinta,

e resvalará sutil nossos esquecimentos,

será uma mancha nos baços pensamentos,

alguma luz mal lembrada na escuridão.

Depois de morta a poesia, sua música,

suas cores, suas imagens, paisagens,

suas miragens e encantamentos,

o seu alento das horas difíceis,

seu alimento das horas improváveis,

que sustenta tudo em dias incabíveis

e que tudo explica em noites absurdas,

restará não mais que apenas resquícios

nos interstícios de cada momento,

a sua marca no tempo apagada pelo vento

a sua vontade perdida em todo intento,

a sua semente arrancada na tempestade.

Depois de morta a poesia, restará falar

desse tempo de assombros e escombros,

sem saber da existência dela, sua essência,

aparência ou talvez uma certa luminescência.

Depois de morta a poesia, daremos de ombros

sem crença, mitologia, ou ciência,

todos órfãos de um mundo que esquecemos...

Marcos Lizardo
Enviado por Marcos Lizardo em 18/12/2020
Reeditado em 06/02/2021
Código do texto: T7138885
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