Depois de morta
Ainda mesmo depois de morta
A poesia assombrará nossos silêncios
Como coisa ida ou tida, passada, extinta,
e resvalará sutil nossos esquecimentos,
será uma mancha nos baços pensamentos,
alguma luz mal lembrada na escuridão.
Depois de morta a poesia, sua música,
suas cores, suas imagens, paisagens,
suas miragens e encantamentos,
o seu alento das horas difíceis,
seu alimento das horas improváveis,
que sustenta tudo em dias incabíveis
e que tudo explica em noites absurdas,
restará não mais que apenas resquícios
nos interstícios de cada momento,
a sua marca no tempo apagada pelo vento
a sua vontade perdida em todo intento,
a sua semente arrancada na tempestade.
Depois de morta a poesia, restará falar
desse tempo de assombros e escombros,
sem saber da existência dela, sua essência,
aparência ou talvez uma certa luminescência.
Depois de morta a poesia, daremos de ombros
sem crença, mitologia, ou ciência,
todos órfãos de um mundo que esquecemos...