O DIABO NO CORPO

Tenho o defeito de não me conformar ao possível,

De querer algo mais do que o oferecido

Pelos limites do tempo presente.

Meu ofício é reinventar palavras, novos gestos e modos de sentimento e existência.

Sou inimigo da civilização e do progresso.

Meu tempo é incerto.

Não tenho medo de ser violento,

De me opor a tudo que é sensato,

Domesticado e normalizado.

Grita em mim o porvir de uma grande mudança.

Pois dentro do meu rosto , não há tradição,

Ordem ou conhecimento,

Que seja maior do que a minha vontade de abismo,

Que meu delírio de esperança

E fome de suicídio.

Amo a incerteza das ruas escuras,

A embriaguez noturna,

Que reinventa o mundo como labirinto,

Que gesta em mim um protesto,

Uma raiva de ser gente,

Que me acende um fogo por dentro,

Uma intensidade dos sentidos

Que esclarece o mundo,

Na profundidade da pele

Que reduz o corpo

A um passageiro feliz do absurdo.

Contra toda a humanidade

Eu sou um animal

Que lambe a terra no céu,

O mal que eu da falácia

De todo ideal moral.