O QUE GOSTO DE FAZER
Bater enxada num trilho
Botar a cunha de molho
Comer um cuscuz de milho
Temperado com repolho
Pegar cabrito ladrão
Inteiriçar pé com mão
E amarrar nele um trambolho.
Escolher o que recolho
Preparar com seleção
Dançar forró na latada
Quando é noite se São João
Fazer poeira sem pena
Dando cheiros na “morena”
Debaixo dum pavilhão.
Decorar uma canção
Feita por Zé Marcolino
Assistir as presepadas
Obras de qualquer menino
Pegar caneta e papel
Elaborar um cordel
Pra dizer: sou nordestino.
Aboiar gado turino
Depois desmochar bezerro
Fazer novena e pedir
Pra Senhora do Desterro
Ficar de testa suada
De carregar pra latada
Barro pra fazer o aterro.
Não permanecer no erro
Mas insistir na verdade
Tratar todo mundo bem
Fazer sempre caridade
Respeitar quem é mais fraco
Antes de botar pitaco
Respeitar a liberdade.
Visitar qualquer cidade
Por aqui, na região
Trabalhar pela cultura
Defender nosso sertão
Ir na missa pra rezar
Mas em casa praticar
A minha religião.
Na terra socar moirão
Amansar garrote brabo
Ser vaqueiro em vaquejada
Derrubar boi pelo rabo
Comer comida brejeira:
Costela com macaxeira
Feijão-de-corda e quiabo.
Ir no mato e cortar cabo
De freijó pra cavador
Um mais grosso pra chibanca
Um fino pra ciscador
Isso sempre a gente inventa
Pra montar a ferramenta
Que dispõe o agricultor.
Lutar pelo professor
Que produz educação
Sendo um braço musculoso
Que sustenta esta nação
Por ele sempre eu me uno
Porque também fui aluno
Já passei na sua mão.
Eu tenho predileção
Para aquilo que vou ler
Traço um plano de leitura
E depois vou escrever
Escolho viver assim
Sem ninguém fazer por mim
O que gosto de fazer.
Ver a noite escurecer
Com a lua nova e bela
Que parece e letra “C”
Com a curva que tem nela
É perfeito o criador
Que depois do sol se pôr
Fica clareando-a ela.
Tomar um chá de canela
Acompanhado de broa
Recordar de Jesus Cristo
Ao chegar na hora noa
Operar sempre a virtude
Lançar canoa no açude
Pra passear de canoa.
Sempre ver bem na pessoa
Que alguém lhe atribui o mal
Bater arroz numa lona
Vestir cela em animal
Assar castanha na lata
Depois correger a mata
Rebanhar gado em curral.
Ver a tela natural
Que por Deus já foi pintada
Toda noite recordar
Das feições da minha amada
Nunca frequentar fofoca
Fazer aceiro de broca
Pra deixa-la preparada.
Traspus um pouco de cada
Coisa que formam meu traço
Inda mais que sou poeta
Confirmado em cada passo
No que Luan disse, aposto:
“Eu faço aquilo que gosto
Gosto daquilo que faço”.
Baixa Grande 14/04/2020