alguma coisa

a coisa dói, está entranhada

entre lepra e lembranças, fundo

de um rio, ou o raso de uma praça,

broto, semente, mordida de serpente

a golpear o espaço vazio, o chão sede,

o riso desaparece, um igreja vazia se

põe ao pé da montanha, homens

e mulheres que não se falam, arriscam

palavra num arvoredo de cores entrelaçadas

a pedras de madeira, não é vazio, tampouco

é algo que se diz palavra ou palanque, pulso

de pus, ferida acesa nos arredores do ser,

então lembramos da volta do jardim, da

moça bonita, daquele beijo jamais confirmado,

do quarto cheio de segredo, de tantos amores

que nem dou conta dos que vingaram, sabemos

pernas, sabemos olhos e vontade, a prosaica

simplicidade acorda na gente a vontade de viver

Ariano Monteiro
Enviado por Ariano Monteiro em 17/12/2020
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