PÉ DE CASTANHOLA
Minha lira sem ter medo
Declama "prum" arvoredo
Igual baião de viola
Seus versos improvisando
Segue a musa recordando
Do meu pé de castanhola.
Era um pezinho bonito
Onde morava um sibito
Junto dele um beija-flor
Debaixo dele eu cantava
Minha mente improvisava
Cantigas a meu amor.
Era ela jovem bela
Do seu rosto na janela
Ainda trago lembrança
Com ela cresci criado
E também apaixonado
Desde o tempo de criança.
Em noites de escuridão
Eu levava um lampião
Que dava pra clarear
Ficava de sentinela
A chamava na janela
Ela vinha me escutar.
Cantando com precisão
O romance de Cidrão
Ela reparava a cena
E foi quando percebeu
Que o Cidrão só era eu
E ela era a minha Helena.
Mas o tempo foi passando
Nosso amor mais aumentando
Sem nunca se consumar
Fato triste resultou
O pai dela viajou
E não pode lhe deixar.
Minha amada foi-se embora
Minh’ alma soluça e chora
A castanhola também
Sem poder me dar seu colo
Com meus braços lhe consolo
Mas ela nem braços tem.
Eu voltava toda noite
Sentindo o mais grave açoite
Daquele drama seguro
Cantava escorado ao tronco
As vezes puxava um ronco
Embalado pelo escuro.
Os dias foram passando
Esperanças se acabando
De tudo que aconteceu
Se não bastasse a tristeza
Ao voltar tive a surpresa:
A castanhola morreu.
Ela morreu tão tristonha
Como um poeta que sonha
Sem nunca poder cantar
E agora tudo se finda
Até mesmo a jovem linda
Não pode mais retornar.
Eu fiquei vagando atoa
Procurando outra pessoa
Alvo dos meus sentimentos
Quando muito procurei
Com nada mais me animei
Apenas com meus tormentos.
Baixa Grande 12/03/2020