Relógio sedento





Gostava das flores, ao cultivá-las cedo
era da própria alma que cuidava,
não gostava de vê-las soltas nos vasos,
não sabia ao certo o que sentia
quando alguém lhe ofertava flores,
era uma sensação que incomodava


Preferia que elas ficassem no jardim,
quanto a sua alma, gostava de desprendê-la
para que voasse livre sem temer o fim


Gostava de poesia, ao escrevê-las
na força das palavras o caminho de volta
encontrava, precisava chegar,
há muito havia marcado o lugar
que queria ficar,
deixando para trás o excesso de emoção,
às vezes o mundo parecia pequeno
demais para tantas flores, tanta beleza,
tanto amor


Escrever era como semear um imenso
jardim, muitas flores, às vezes escorregava
por entre os seus dedos, 
erva daninha,
outras desconhecidas venenosas,
causando algo estranho e impossível
conter, onde tudo era tão inútil, matava
a inocência e a vontade de escrever


O futuro de que falava não era o seu,
o futuro aparentava um dia nublado,
um tempo fechado


Gostava do dia com a cara amarrada,
convidando à passear, mas havia trancas
nas portas, se aquietava só ouvindo
a rua à chamar


Os pensamentos, não descansavam,
parecendo tempestade...

Pendurou o relógio sedento, na parede
o tempo se encarrega de tudo,
sabia conduzir a felicidade


Deu mais uma olhada para as páginas
em branco, não iria dizer,
havia excesso nas palavras, essas tantas e
outras secretas jamais seriam reveladas,
sairia da sua alma, só suspiros,
olhar distante


Havia uma mulher desconhecida silenciosa, 
dormindo num corpo que não aquietava.
Era a luta entre uma alma madura
nesse cenário vida, ela apenas figurante,
daqui a pouco iria sumir ...
Gostava,  e sabia como ninguém, ser esquisita
em seu jeito rabujento, feito bicho acuado .


Liduina do Nascimento
Enviado por Liduina do Nascimento em 15/12/2020
Código do texto: T7136018
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