Solidão
Restou-se a sarjeta dos desvalidos
Abjeta guarida do lodo das angústias
Destinada aos poetas de espírito
Que definham na fome de versos nunca lidos
Atiro-me ao precipício das paixões perdidas
E em cada pecado, seus dissabores
Pagos com a moeda que alimenta a morte
Sombra infalível que não me apraz
Reviro cartas antigas, odes ao amor
Manuscritos traços de doce esperança
Fulguram retratos do passado
Que já não creio mais
Cada olhar perdido que me cerca
Não percebem a minha existência
No banquete da imagética simplória
Deliciam-se os zumbis hipnotizados
Por que fui escolhido à megera lucidez?
Preferiria a ignorância do que a tortura de saber
Amigos queridos já se foram em tenra idade
E nas madrugadas, ninguém mais a confabular
Onde estão meus semelhantes nesta mera ilusão?
Não quero ficar aqui sozinho
Na tortura de perseguir o silêncio
Sem a gentileza do seu amargo cafezinho