Viagem pelo pensamento bígamo da consciência…
Viagem pelo pensamento bígamo da consciência…
eu procurei primeiro o pensamento,
li, reli, apreciei a textura das letras
eu quis, depois, a imortalidade...
esse tempo sem tempo onde nada se esquece…
um como o outro só deram ao meu ser
a sombra fria dos seus vultos negros
como se o caixão que envolve as folhas
forre amarado pela tinta das letras
encimado por laços de vírgulas…
na noite eterna longe dos meus braços...
eu procurei depois o amor e a vida
para ver se ali, diante dos abraços prometidos
esqueceria a dor deste social afastamento animal…
do pensamento e da ciência firme
da certeza da morte, essa eternidade do esquecimento
nova salvação na promessa da alma, o amor.
mas o amor, esse sentir de quem guardou a alma inteira,
e não podia haver amor para mim, eu já o consumia ávido…
depois na acção cega e violenta, onde eu
afogasse de vez toda a consciência
da vida, quis lançar meu frio ser em mares visigodos
nessa herança régia de quem luta pela independência da sobrevivência
sem amarras declaradas a ideias formatadas,
nesse tudo que sou e do seu oposto…
mora em mim um bígamo pensamento
entre o prazer e a dor de me dar
entre a saudade e a vontade de debitar
palavras e letras
versos e estrofes,
poemas e textos onde pairam as nuvens
espreitando o sol por de trás do luar…
ergam-se as lendas celtas das ruínas dos mouros castelos…
que meus versos sejam quadros dependurados numa floresta cinzenta
árvores de betão que ontem arderam
lidas por mascarados sem rosto com medo da morte…
Alberto Cuddel
13/08/2020
17:17
Poética da demência assíncrona...