Manhã de Segunda-feira
Manhã de segunda-feira...
Tudo principia novamente
É um presente da Vida
Ter a vida ainda presente
E recordar os bons momentos
Vividos no fim de semana
Mesmo aqueles não tão bons
Na rua, na chuva ou na cama
O delicioso fruto da videira
Os aromas, os toques, os sons
Geralmente começa na sexta-feira
E a cada momento vão mudando seus tons
As canções de amor, as de tristeza
Os momentos insanos, a delicadeza
As fotos com a multidão de amigos
As fotos, só, no meio da multidão
A multidão de fotos, o tilintar dos copos
O entremesclar dos corpos
Cheios, vazios, plenos, carecentes
Qual mente detenta, que tenta e tenta
E, se tenta, é possível que logre
Mas talvez não…
Talvez aos setenta.
Manhã de segunda-feira…
Lembranças em abundância
A praia, a piscina, a cachoeira
A chuva, os bolinhos de chuva
As histórias contadas, a velha infância
A água límpida, a água turva
O bocado comido, o esquecido
O dito e o não dito
O vivido e o não vivido
O churrasco com a família
A família sem o churrasco
A ausência de uma família
A solidão, o impiedoso carrasco
As efusivas gargalhadas
As bebidas quentes e geladas
O lençol com um nome estampado
O travesseiro com outro do lado
A fome que mata de sede
Que não sacia pelo peixe da rede
De conexões que não se conectam
Nas noites em que se embaralham as cartas
Marcadas, viciadas, jogadas
Dama de ouro e valete de paus
Dama de copas e rei de espadas.
Manhã de segunda-feira…
Os pensamentos em ebulição
Recendem, vibram gratidão
Por uma feira que não é a primeira
De um dia em que não há feira
Em que tudo começa novamente
Há quem se extenue
E também há quem nem sente
Linha tênue...
Do que se faz consciente e inconscientemente
Numa rotina do automático
Que torna o difícil em prático
E sem perceber, mas na pele sentindo
Mais um dia se passa…
E não percebe a massa
Que é a vida se esvaindo
Enquanto a ampulheta
Deixa cair seus grãos
De uma areia fina
E desprovida de emoção.
Manhã de segunda-feira…
Dissipa-se com o vento
A contento ou descontento
Logo será terça-feira...