O boia-fria
Ele chegava na manhã
Muito antes que o sol chegasse
A fotografia do campo o enquadrava
Agarrado à sua enxada
E a terra revolvia
Como a colheita resolvia
Antes que a boia esfriasse
Toda boia ele comia
Muito antes do meio-dia
Seu suor molhava na terra
Sem a água da chuva
Chuva que não chovia
A semente se ajeitava
Na cova que lhe cabia
Cova que era o útero
Da semente que ali jazia
Era assim que germinava
Na mais pura teimosia
O dia-a-dia se completava
Quando a noite chegava
No dia do boia-fria