O boia-fria

Ele chegava na manhã

Muito antes que o sol chegasse

A fotografia do campo o enquadrava

Agarrado à sua enxada

E a terra revolvia

Como a colheita resolvia

Antes que a boia esfriasse

Toda boia ele comia

Muito antes do meio-dia

Seu suor molhava na terra

Sem a água da chuva

Chuva que não chovia

A semente se ajeitava

Na cova que lhe cabia

Cova que era o útero

Da semente que ali jazia

Era assim que germinava

Na mais pura teimosia

O dia-a-dia se completava

Quando a noite chegava

No dia do boia-fria

Roberto Chaim
Enviado por Roberto Chaim em 07/12/2020
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