ACORDES
®Lílian Maial


Há um homem da mata,
À espreita, como a nota mais perfeita,
como o som de manhãs de sol,
riacho pleno em sussurro às cachoeiras.

Anda por entre galhos,
folhas secas e sorrisos,
fita com o olhar das árvores,
certeza de mil anos,
gestos frondosos,
e medo de criança.

Esse homem brinca de desafinar os pássaros,
sopra nuvens e venta brisas,
e canta com as vozes do entardecer.

Há um homem na mata,
que não se deixa aprisionar,
que se move com as gazelas,
que se entende com as raízes.
Sabe das tristezas dos homens,
da agudeza das palavras ocultas,
e solfeja a diferença.

Há esse homem guardado dos tempos,
que surge entre raios e verde,
feito pintura.
Vem de lugar algum,
de não se sabe a razão.

Ele chega de passagem,
mas deixa impregnado um cheiro de eternidade.


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