Poço Fundo
Um poço fundo
Um mundo mudo e imundo
Assiste
Vê tudo
Vestido de sua hipocrisia
de seu esgoto fétido e luto
Não luta
Traz na cabeça uma ideia fajuta
Prefere culpar a ir a luta
Prefere cuspir sua conduta
Na cara
No prato
No ato em que se pede a coisa justa
No voto
Na urna
Na morte que ela encerra
Em nome de uma infame turma
Que dorme rasgando os dentes de rir
Essa canalha
Que vende o seu riso
O seu ouro amarelo
Pintado em uma pobre palha
Aos párias mais uma dose
Mais uma morte
Que assistam felizes mais essa posse
Daquilo que tem nome e tem dono
Comprem a prestação o seu chicote
Ofereçam o lombo vassaslo
Pra ser batido
Pra ser montado
Solapado
Que seja servil cavalo
Arreganhem os dentes
Na hora da cenoura
Chorem suas mágoas, suas lágrimas
Enquanto descascam essa cebola
A isca trazida em notas
parcos cifrões com suas efíges
Esses bordões que se repetem
Sempre que atingem
O alvo certo
O negro certo
O pai, o tio, o avô, o neto
Que vêm carregando nas costas
O preço do atraso
De um poço fundo
De um prato raso
Que cabem adequadamente os restos