Desde que voto

Desde que voto

As ruas têm buracos

E tampá-los é luxo

Pra quem vive em barraco.

Desde que voto

O passeio por onde ando

Está tão feio

Está tão destratado

Que até tenho receio

De me machucar

E não chegar à urna.

Desde que voto

Tem criança sem escola.

Desde que voto

Tem criança atrás de esmola.

Desde que voto

Falta água,

Falta luz,

Falta o guarda (Deus nos guarde!).

Desde que voto

Há quem negue o voto

Sem nenhum remorso.

Desde que voto

Ouço promessas

Que viraram compromisso

Ora essa!

Desde que voto

Há político que não presta,

Mas alguma opção

Sempre nos resta.

Desde que voto

Há quem vende o voto

E se faz devoto

De quem o compra.

Desde que voto

O rico elege o rico

E o pobre, bem pobre,

Prefere o nobre.

Desde que voto

O voto é sonho,

Sonho de um tempo

Menos partido.

Desde que voto

Há tanta injustiça,

Combatida por gente postiça.

Desde que voto

Uso a balança

A balança da escolha

De quem para o povo

Mais avança.