Odor di femina(II)-poesia
13/11/2005 22h23
clevane pessoa de araújo lopes
Cheiro dado
pelo Criador,
mas também
formado
numa alquimia secular...
Ao longo dos tempos,a mulher,
coletora,recebia na pele sol e chuva,
amante do belo,banhava-se nua ao luar...
Esfregava folhas para chás e mezinhas,
fazia licores de anis e de pétalas de rosa...
De pés descalços,esmagava uvas no lagar,
Tomava banho morno,lento,lânguida e lenta
em bacias de cobre ou madeira olorosa,
cheias de ervas para rituais de limpeza,
para as magias do amor...
As mulheres têm história cíclica de sangue:
defloramentos,mêstruos e partos...
Nas cozinhas,mexendo tachos de doces,
cozidos,feijoadas,arroz,como se dançarina fosse,
bate ovos em movimentos sincronizados:
claras em castelo,em neve,em picos,
nuvens de glacê e ovos nevados,
confeitos e marias- moles,
gemas até clarear e dobrar de tamanho...
Bate a nata do leite ,separando o creme do soro,
a preparar manteiga e creme...
Incansável a formatar os queijos...
Fritar,refogar,embutir,defumar,
verbos de seu cotidiano incansável!
E a magia nos caldeirões de feiticeiras
e os pós, o kajal,as pomadas,o glamour
obtido em momentos de toucador...
Temperos e caldos provados no côncavo
e na palma da mão,
os movimmentos ritmados do pilão,
da roda de fazer farinha...
Beijus,biscoitos,omeletes,
ovos estrelados na frigideira,
broas,coalhadas,
para aproveitar o leite talhado...
E o suor que perola sua testa
e os humores de seu caminho estreito...
Assim,medindo colheres de mel,
ralando coco e queijo,nóz moscada,
preparando mamadeiras
quando o seio seca ou o leite materno,
forte,adocicado,de cheiro pungente,
não é mais suficiente,
para a faixa etária de seu filho,
a mulher se tornou ela própria
a depositária de todos os cheiros
da Terra e das criaturas...
Um cestinho de possibilidades,cada ovário.
O líquido amniótico ,no útero,
onde nada o feto,
capaz de manter o milagre da vida...
E o homem passa a vida atrás
do odor di femina que lhe lembra a própria mãe,
a essência de todas as mulheres,
De Ph ácido ou não,
cheiro único,de anjo e de animal...
E assim,em seu inconsciente,
vai sempre em busca da multiplicação...
Clevane,Belo Horizonte,13/11/2005.Início de tarde dourada e o fuscante de sol .
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