devaneios pandêmicos
O corpo pede descanso
O corpo pede descanso
do desejo sem vontade,
do consumo sem necessidade.
O corpo pede um freio
que pare o louco rítimo
acelerado para a produção
E o corpo adoece.
Doente, o corpo não suporta
o vírus
É preciso que o corpo pare
É preciso que o corpo se afaste do corpo
É preciso quietude.
O corpo confinado
cessa o movimento
cessa o frenesi,
cessa a roda econômica,
que sem o corpo, não gira.
E o corpo se acostuma
com o necessário
O corpo, afetado pela pandemia,
sem marcha e sem armas,
indica mudanças, indica que os excessos e
o desnecessário servem à acumulação do capital;
então, o corpo revoluciona o sistema.
É preciso que o sistema se desmorone,
que se imploda
e que cada fragmento, cada pedaço de destroço
nos faça lembrar que estávamos a deriva,
estávamos perdidos como cegos a tatear o caminho.
E...
Graças a um vírus que parou a roda da fortuna de poucos,
O corpo confinado, para não ser contaminado,
repousou, se aquietou, se descansou.
Uma nova ordem?
Uma nova lógica ?
Quem sabe?
Quem saberá?
Questões que me invadem;
Questões que me encontro.