POEMAS SELECIONADOS DE ANTONIO COSTTA

A DESCOBERTA DE UM NOVO MUNDO

Quando eu era pequeno,

ainda sem saber ler,

o meu passatempo preferido

era ver revistas e jornais.

Meu pai no campo

cuidando do gado,

minha mãe na cozinha

cuidando do almoço,

e eu em casa

de pernas pro ar,

fazendo de conta

que sabia ler.

Ficava horas deitado no chão,

debruçado/deslumbrado

sobre as folhas incomunicáveis

das revistas e jornais.

Meus irmãos ganhavam o campo,

à cassar passarinhos,

à pescar nos açudes

à subir nas árvores do sítio

para colherem jacas,

mangas e cajus maduros...

Mas o que eu gostava mesmo

era de ficar em casa,

deitado no chão da sala,

contemplando as páginas

das revistas e dos jornais,

deixados por um tio do Recife.

Olhava as figuras

e ria com elas,

Ficava encantado

com aquele mundo novo

que não entendia,

que não decifrava,

mas que me fascinava

por ser tão diferente

das coisas do sítio.

Não imaginava

que naquilo tudo

já estava a minha identificação

com mundo da palavra escrita,

com o mundo extraordinário

da prosa e da poesia!

UM JUNTADOR DE PALAVRAS

Os loucos vão pela rua

Procurando uma razão;

Os músicos ferem as cordas

Procurando uma canção.

Os rios procuram o mar,

As abelhas procuram as flores;

Os dias procuram as noites;

Nas noites, procuram-se amores!...

E eu procuro no tempo

Algumas belas palavras;

Pérolas vagando ao vento,

De ouro -partículas, lavras.

Sou um caçador de emoções,

Sou um juntador de palavras;

Componho poemas, canções,

E dos pássaros -as suas asas!...

Sou menino e sou adulto,

Sou sério e sou brincalhão;

Canto com um olhar astuto

O que manda meu coração.

Se sofro... –de quem é a dor?

Quem melhor pode senti-la?

A dor é minha -e meu é o amor-

E pouquíssimos querem ouvi-la.

Por isso contenho-me apenas

Em juntar algumas palavras;

Que formarão simples poemas,

E retornarão ao vento, às vagas!...

Tornei-me um caçador de penas

Ou de belíssimas aves raras?

Não importa, tornei-me apenas

Um "juntador de palavras"!...

"VERDE QUE TE QUERO VERDE"

(Inspirado no verso de Frederico Garcia Lorca)

Verde que te quero verde

Na floresta enverdecida,

Verde cada vez mais verde

No palco verde da vida!

Como era a vida tão verde,

Como era tão verde a vida!

Verde vida vida verde

verde verde vida vida!

Mas o verde que gera vida

Fora dos olhos mais verdes

Virou deserto sem vida

Virou floresta queimada,

Virou poeira e carvão

Que se levanta na estrada!

Virou conjunto de casas

Virou um solo asfaltado.

Oh! Homem que o verde tira,

Que atira fogo no verde,

Por que fazer sua mira

No alvo verde da terra?

Não vê que faz uma guerra,

Que contra a si mesmo atira?

E quando que verde vira

É diferente sua lira!

É um verde horizontal

Do vasto canavial;

Não é verde replantado,

É verde vasto de soja

E dos cercados de gado!

Pois acha mais importante

Enriquecer num instante,

Empobrecendo o futuro;

Não ter oxigênio puro,

Não ter floresta nem nada,

Não ter pássaro que cante,

Não ter uma onça pintada,

Um verde mais verdejante...

Viçoso com a invernada!

NO CHÃO DA SAUDADE

Prossigo sereno revendo a história

No vasto terreno do chão da memória.

Tão cheio de terra brincando no chão

De bola de gude, carrinho e pião.

Lá pego canário com meu alçapão,

Lá pesco piaba com meu jereré;

Facheio rolinha com meu lampião

E brinco de bola imitando Pelé!...

Lá faço brinquedos de tábua, de lata,

E sei tirar mel de abelha na mata!

Sou bem mais feliz — não posso negar...

Onde fica esse chão? em que tempo? espaço?

No chão da memória me perco e me acho...

— Chão da saudade da velha Pilar!...

RECORDAÇÕES DA INFÂNCIA

Buscar água escanchado num jumento

Conduzindo incuretas nos cambitos,

Ouvindo o som das vacas, dos cabritos,

Dos nhambus que ecoavam pelo vento!...

Elegias que guardo no pensamento:

Ouvir a minha avó cantar benditos,

Ouvir de meu avô antigos ditos,

Anedotas e histórias de relento...

Fisgar peixes no açude ou lá no rio,

Tomar banho de chuva, sem ter frio...

Emoção que inda guardo. Indescritível...

Comer jaca no pé, manga e cajá,

Na fogueira assar milho com sinhá...

— Minha infância assim foi inesquecível!

CHIBATA PRETA

Quem é que não se lembra

De uma negra, Chibata,

Que morava na Estação

E cozinhava em uma lata?

Eu vinha de Chã de Areia,

Por Figueiredo passava,

E chegando na Estação

Chibata Preta encontrava!

Conhecida por Chibata,

Chibata, Chibata Preta,

A pobrezinha, coitada,

Não tinha posses nem letra!

Era uma pobre indigente

Que morava bem ao léu;

Tinha por cama - o chão,

E por cobertor - o céu!

Um amontoado de lixo

Na margem daquela rua;

Era a “casa” da Chibata

Iluminada pela lua...

E por que “Chibata Preta”,

Também queres entender?

N’era porque tinha uma chibata

Pra si mesma defender.

Era porque a pobrezinha,

Que cozinhava em uma lata,

Era magra e pretinha

Parecendo uma chibata!...

Era a Chibata Preta

Conhecida do Pilar

E também da região

Que vinha nos visitar.

Era o terror das crianças

Aquela negra Chibata,

Que morava na Estação

E cozinhava em uma lata!...

Mas um dia a pobrezinha

Partiu da nossa cidade;

Pois passava frio e fome,

Tamanha necessidade!

E Pilar ainda se lembra,

E alguns sentem saudade;

Daquela mulher pretinha...

Que partiu pra eternidade!

A VIDA CONTINUA

A vida continua

quer no campo ou quer na rua

sob o sol ou sob a lua

vestida ou mesmo nua

sobe o mar e sobre a terra

quer em paz ou quer em guerra

lá vai a vida vivendo,

lá vai a vida passando,

lá vai a vida sorrindo,

lá vai a vida chorando,

lá vai poeta escrevendo,

lá vai soldado brigando,

lá vai a chuva chovendo,

lá vai as flores brotando,

lá vai o sol se escondendo,

lá vem a noite chegando!

Pois a vida continua,

continua, continua!...

Depois da tempestade,

depois do terremoto,

depois do amor achado,

depois do amor perdido,

uma coisa eu logo noto,

é que a vida não se acaba,

é que a vida ela prossegue,

surpreendendo, ressurgindo,

dentre as cinzas como fênix,

como flor em meio as fendas

do concreto retorcido.

Por isso não vale a pena

dar-se agora por vencido,

trancar-se no seu quarto,

trancar-se dentro de si,

porque a vida ela não para,

com você ou sem você,

ela vai continuar!

Viva, viva, muito viva,

brilhando ao anoitecer

e também, muito mais viva,

quando o dia amanhecer!

NEM TUDO QUE RELUZ É OURO OU PRATA

Nem tudo nesta vida nos convém,

Paulo escreve deixando bem explícito:

“Tudo é bom, mas nem tudo nos é lícito”,

Provai tudo, mas só retende o bem!

Precisamos enxergar mais além,

Há espinhos nas flores do jardim;

O mundo se camufla para mim...

Porque nem todo abraço amor contém!

Preciso de Jesus na minha vida,

Pois o caminho é estreito e tem subida,

E não posso abandonar minha cruz...

Pois a vida a cada dia nos retrata:

Nem tudo que reluz é ouro ou prata...

E só existe uma esperança: é JESUS!

A FALSIDADE DESTE MUNDO

Neste mundo é tamanha a falsidade

Que a verdade, de repente, ocultou-se;

A mentira transformou-se em verdade

E a verdade, em mentira, transformou-se!

Porventura alguém sabe onde a verdade

Neste mundo hodierno extraviou-se?

Em que parte do planeta a bondade

Inda não, em maldade, adulterou-se?

Oh Senhor, nos livrai da falsidade!

Que opera neste mundo de maldade,

Da forma mais arguta e traiçoeira...

Pois no mundo a maldade não se espira:

A verdade transformou-se em mentira

E a mentira — em verdade verdadeira!

A INGRATIDÃO DA HUMANIDADE

A ingratidão, meu Deus, esta pantera

Que habita o coração da humanidade,

Ignorando o amor e tua bondade,

Chamando-te até mesmo de quimera!

A ingratidão, meu Deus, no mundo impera.

Fazer o bem parece iniquidade!

O agradecimento é leviandade,

Sempre da parte de quem não se espera!...

É contumaz, meu Deus, homens ingratos,

Comer teu pão, depois cuspir nos pratos,

Ignorando o amor com que fizeste!...

E se lhes pede comida, um faminto,

Ignoram o pobre no recinto,

Negando repartir do que lhes deste!...

ESTENDE AS TUAS MÃOS

Estende as tuas mãos aos necessitados,

Aos que passam por grandes provações;

Pois saiba que nos Céus são registrados

Todo bem que fizerdes - tuas ações...

Estende as tuas mãos aos desabrigados,

Aos que passam nas ruas suas aflições;

Aos que pedem um pão, desesperados,

E mendigam afeto aos corações!...

Atentai p'ra sua dor, para os seus gritos,

E estende as tuas mãos para os aflitos,

Que carecem de amor, felicidade...

Recolher as tuas mãos é grande risco,

Pois quem sabe o pedinte é Jesus Cristo,

Disfarçado, pra provar tua caridade!...

QUEM DER ESMOLAS

Quem der esmolas não dê

como quem toca trombeta,

mas dê de forma secreta,

para ninguém mais saber.

Quem der esmolas não dê

pra parecer piedoso,

um homem bom, generoso,

uma excelência de ser.

Quem der esmolas o faça

sem propagar pela praça,

sem comentar com os seus...

Que o bem que a gente pratica

bem registrado ele fica

nos livros do nosso Deus!

SE AS PEDRAS FOSSEM FLORES

Mas já pensou se pedras fossem flores?

Que alegria seria ser apedrejado!

Chamaríamos, por certo, de amores

Todos que pedras têm nos atirado!

Mas já pensou se pedras fossem flores?

Como o caminho seria perfumado!

Lindo jardim, repleto de primores,

Com flores surgindo por todo lado!...

Que pena que as pedras flores não são!

E piores são as da ingratidão

Quando acertam, pelas costas, nosso ser!...

Ficamos, de tal forma, estarrecidos

Que tardamos nos dar por convencidos

E a ninguém desejamos convencer!...

ONDE SEU GESTO PASSOU

Onde seu gesto passou

A noite fez-se estrelada,

A lua fez-se mais bela

E a vida mais encantada.

Onde seu gesto passou

Deixou a terra florida,

As almas plenas de sonhos,

Os sonhos plenos de vida!

Onde seu gesto passou

Deixou perdão e guarida,

Deixou justiça e igualdade,

Felicidade incontida.

Onde seu gesto passou

Deixou a esperança ativa,

Um novo tempo brotado

Nos escaninhos da lida!

Onde seu gesto passou

Deixou a guerra vencida,

Deixando o mundo feliz

Gozando a paz auferida.

Onde seu gesto passou

Na terra teve esplendor;

No mundo teve bonança,

A paz de nosso Senhor!

Que gesto pode ser esse

Que muda tudo na vida?

Que faz do triste — feliz!

Que cicatriza a ferida!

Que gesto pode ser esse

De imensurável valor?

— é o gesto dum sentimento

Chamado apenas de AMOR!

UM MILAGRE

Um milagre acontece em minha vida

Todo dia quando acordo e, tão profundo,

Eu contemplo a terra, o mar, o céu, o mundo,

A luz do sol nas águas refletida!...

Um milagre acontece em minha vida

Quando escuto os alegres cantarilhos

Da minha esposa, o riso dos meus filhos,

Quando a minha família vejo unida!...

Eu só tenho, Senhor, que te louvar

Pelas bênçãos que estás a derramar,

Dando-nos saúde, força e guarida...

Pois toda vez que vejo o pão na mesa,

A família presente... — que beleza!

Um milagre acontece em minha vida!

CANÇÃO AMIGA

Eu quero ouvir uma canção amiga

Do próprio zunir de um inseto!

Que embora distante a melodia

Seu encanto faça-lhe tão perto...

Eu quero ouvir uma canção amena

Dessas que falam de amor, alerto;

E quero sentir sua forma serena

Na multidão, embora eu deserto!...

Eu quero ouvir uma canção eterna

Que sim, só fale de amor, repito;

Onde o homem esqueça a guerra

E onde a guerra esqueça o grito!...

Eu quero ouvir uma canção amiga

Dessas que o mundo jamais esqueceu;

Que fale de tudo, das coisas da vida!

Da vida da vida de quem a viveu...

SE NÃO FOR PARA AMAR

Se não for para amar,

Amar para sempre, amar,

Prefiro nem conhecer,

Prefiro nem conversar,

Prefiro nem me envolver,

Prefiro nem namorar.

Se não for para amar,

Amar para sempre, amar,

De que vale se atrever?

De que vale mergulhar?

De que vale se entender?

De que vale se entregar?

Se não for para amar,

Amar para sempre, amar,

Com toda convicção,

De todo seu coração,

Com verdade, com paixão,

De que vale se aventurar?

Se não for para amar,

Amar para sempre, amar,

Não vale a pena me ver,

Não vale a pena sonhar,

Não vale a pena te ver,

Não vale a pena viver,

Não vale a pena tentar!

NAVIOS

Farol aceso

Navios no mar

Querem ilesos

Ao cais chegar.

Cuidado com as pedras

Navios no mar!

Há um farol aceso,

Mas onde está?

Há navios querendo

Navegar em paz;

Desviar das pedras,

Abortar num cais.

Cuidado, poetas

De algum lugar!

Sempre haverá um navio

Querendo chegar.

Trazendo versos

Para agente rimar;

Trazendo lágrimas

Para agente chorar!

Trazendo canções

Para agente cantar;

E recordações

Para agente lembrar.

Trazendo, trazendo,

Querendo deixar

A nossa alegria...

Do tamanho do mar?

Por que os navios

Não vem carregar

A nossa tristeza

Para o meio do mar?!

PEDRADAS

Pedradas que levei ontem,

Com elas eu faço um verso;

Co'as de hoje faço a ponte

Que me leva pro sucesso!

Não me importo co'as pedradas

Nem co'as furadas de espinho;

Sigo firme na jornada,

Com Jesus em meu caminho!

As pedras que me arremessam

Por inveja é que se faz;

Vem daqueles que detestam

Meu sucesso e minha paz.

Quem pedras vive a atirar

Nos outros constantemente,

Certamente é porque está

Vendo frutos em sua frente.

Quem pedras vive atirando

Contra a vida dos vizinhos,

Não sabe que eles, juntando,

Farão pontes nos caminhos!

Quanto mais levo pedrada,

Avanço na trajetória;

De todas Jesus me guarda

E sempre me dá vitória!

AGORA

Meu senhor, minha senhora,

Minha criança, meu vaga-lume;

O futuro não quer mais estrume!

O futuro quer falar agora...

Agora todas as esperanças!

Agora todos os ideais;

Agora tudo que ficou pra trás!

E que nunca deixou de ser...

Porque o futuro

Sempre esteve presente

Embora inocentemente.

Nenhum amigo se fez tão antigo;

Nenhum grito ecoou tão perto;

Nenhum deserto se fez tão jardim!...

Meu senhor, minha senhora,

É chegada a hora de dizer AGORA!!!

JOÃO BRASIL

Acorda João!

A condução!

São cinco horas!

Se não, se não...

É dia santo,

É feriado,

É João Brasil

Desempregado!

Acorda João!

A condução!

São cinco horas!

Se não, se não...

Mas João Brasil

É democrata,

Não suporta

Ser burocrata;

Xinga a mulher,

Xinga o patrão!

Depois se cala

Se não, se não...

É dia santo,

É feriado,

É João Brasil

Desempregado,

Desquitado!

Processado

E confinado

Numa prisão!...

— Numa prisão

Acorda João!

QUERO PASSAR

Quero passar

Sem muito alarde,

Como um herói,

Não um covarde.

Quero passar

Tal qual formiga,

Levando a carga

Da minha vida.

Quero passar

Com este meu jeito,

Pelos teus olhos

E por teu peito.

Quero passar

Sempre por perto,

Plantando flores

Pelo deserto.

Quero passar,

Minha alegria,

Beijando a boca

Da poesia.

Quero passar

Bem devagar...

Pois minha pressa

É só de amar!

AI QUEM ME DERA!

Ai quem me dera

Voltar ao tempo

Que a nossa vida

Tinha mais graça.

Quando, à varanda,

Se ouvia a banda

Tocando marcha,

Ou minueto

Lá no coreto

No meio da praça!

Ai quem me dera

Voltar ao tempo

Em que do trem

Vinha a fumaça;

Em que pulávamos

Da velha ponte,

Pra que se conte,

Só por pirraça!

Ai quem me dera

Voltar ao tempo

Em que o melaço,

Pelo bueiro,

Ganhava espaço

No mundo inteiro.

Quando a doçura

Da rapadura

Vinha no cheiro!

Ai quem me dera

Voltar ao tempo

Em que eu jogava

Forte o pião

E ele girava

Riscando o chão,

Depois na palma

Da minha mão!

Ai quem me dera

Voltar ao tempo

Das brincadeiras

De bolas de gude,

De amarelinha,

De passa anel,

De pular corda,

De empinar pipa

Perto do céu!

Ai quem me dera

Voltar ao tempo

Em que eu tomava

Banho de chuva,

Banho de açude,

Banho de rio,

Sem temer gripe,

Sem sentir frio!

Ai quem me dera

Voltar ao tempo

Que não existia

Tecnologia,

Mas se vivia

Mais emoção,

Mais alegria,

Mais afeição!

Ai quem me dera

Voltar ao tempo

Em que o tempo

Passava em vão?

- claro que não! -

Nele não tinha

Só depressão,

Só violência

E solidão!

Ai quem me dera

Voltar ao tempo

Da minha infância

No meu torrão;

Viver os sonhos,

As brincadeiras

Que guardo ainda

No coração!

EM DEFESA DO AMOR

Sairei pelo mundo em defesa do amor

A pregar Jesus Cristo como Salvador;

A mostrar que o perdão é que cura o rancor...

Sairei pelo mundo em defesa do amor.

Não importa me vejam como um sonhador,

Nem dêem à Palavra o devido valor.

Quer seja pregando ou cantando louvor,

Sairei pelo mundo em defesa do amor!

Direi da Verdade, da Paz, do Perdão;

Do amor fraternal, do amor de cristão,

Neste mundo hodierno de tanto terror...

Ao homem perdido mostrarei “O Caminho”;

A quem vê só espinho darei uma flor...

Sairei pelo mundo em defesa do amor!

QUEM VIVE NESTE MUNDO SEM AMAR

Quem vive neste mundo sem amar

Não conhece da alegria, o segredo;

É como uma folha seca a vagar

Procurando, sempre em vão, aconchego!...

Quem vive neste mundo sem amar,

Qual morcego temendo a luz do sol,

Como pode ser feliz, acreditar

Que existe esperança no arrebol?...

Oh meu Deus! Não permita o sacrilégio

De perdermos na vida o privilégio

De amar e ser amado de verdade!...

Pois quem vive neste mundo sem amar

Como quem não passou — irar passar,

Sem jamais conhecer felicidade!

FOI A FORÇA DO AMOR

Foi a força do amor que fez Jacó

Trabalhar quatorze anos pra Labão;

Pois com Leia ainda sentia-se só,

Só Raquel preenchia seu coração!

Foi a força do amor que fez José,

Lá no Egito, a seus irmãos perdoar;

Demonstrando que nunca perdeu a fé

De toda família reconquistar!

Foi a força do amor que fez Davi

Enfrentar a Golias, não desistir,

E derrotar, sem medo, o seu algoz!...

Foi a força do amor que fez Jesus

Suportar o peso da horrenda cruz

E entregar Sua vida por todos nós!

O AMOR QUANDO CHEGA

Ah... o amor quando chega é barulhento!

Acelera o mais calmo o coração;

Traz aroma de rosas pelo vento,

De repente muda o clima, a estação.

Ah... o amor quando chega muda o tempo,

Não importa se é inverno ou verão!

Que importa, na verdade, é o sentimento,

O prazer de está perto, a emoção!...

Pois o amor é o dom mais precioso,

Mais sublime, mais belo, primoroso,

Que Deus fez dentre toda criação!...

O amor quando chega traz alegria,

Traz canção, traz ritmo e poesia!...

Manda embora, de vez, a solidão!

É VOCÊ

É você quem desperta os meus desejos

Nos momentos que estou na solidão,

Quando vem carinhosa com seus beijos

Alegrar o meu pobre coração!...

É você quando vem com seus cortejos,

Com seus abraços plenos de paixão;

É você com suas frases, seus solfejos,

Quem, de feliz, me faz sair do chão!

É você quem me dá tanta alegria,

Quem desperta em meu ser a poesia,

Quem me faz sentir noutra dimensão!...

É você quem anula a minha dor,

Quem provoca em minha vida mais sabor,

Quem me faz entoar esta canção!...

EM CADA VERSO...

Em cada verso que escrevo tem uma lágrima,

Em cada verso que escrevo tem um sorriso,

Pois em cada verso que escrevo, em cada página,

Tem o sonho e a esperança que não diviso!...

Em cada verso que escrevo tem um aviso,

Em cada verso que escrevo tem um alerta,

Em cada verso que escrevo tem uma seta

Apontando pro caminho de Jesus Cristo!...

Em cada verso que escrevo tem um espelho,

Em cada verso que escrevo tem um conselho,

Tem uma palavra de amor e de guarida...

Em cada verso que escrevo tem esperança,

Tem muitas cenas de meu tempo de criança...

Em cada verso que escrevo tem minha vida!

SONETO DO PASSARINHO

Como é belo um pássaro em liberdade

Voando pelos campos bem cedinho;

Ou no galho d’árvore fazendo um ninho,

Cantando de tanta felicidade!...

Como é belo o gozar da liberdade!

E como é triste o mesmo passarinho

Numa gaiola longe do seu ninho

Cantando só por causa da saudade!

Mas o homem ao perder a liberdade

Não suporta a grande fatalidade

E contrata logo um bom advogado!...

Porém se ele for pobre, pobrezinho...

Como aquele coitado passarinho

Passará a vida inteira engaiolado!

EU SOU PILARENSE DA CHÃ DE AREIA

Eu sou pilarense da Chã de Areia,

Do sítio mais belo que há no Pilar,

Da terra da jaca, inhame, cará,

De tantos cajus que o galho arreia.

Eu sou pilarense da Chã de Areia,

Que é terra dum povo espetacular!

Que a Deus é temente, que ama estudar,

Que labuta com fé, que o sonho enleia.

Eu trago Pilar no verso e na veia,

Eu sou pilarense da Chã de Areia,

No canto que canto, em meu versejar.

Eu sinto orgulho, não posso negar,

Pois sou pilarense, com muito apego,

Da terra natal de Zé Lins do Rego!

QUEM ESCUTA A VOZ DO RIO?

Quem escuta a voz do rio,

Quem escuta a sua voz?

Do rio que está clamando

Por socorro a todos nós!

Quem escuta a voz do rio

E dele se compadece?

Pois o rio está clamando

Por socorro, pois perece!

Quem escuta a voz cansada

Das águas tão poluídas?

Quem escuta a voz do rio

Lutando para ter vida?...

Quem escuta a voz do rio

Nos clamando, em desespero,

Consumido pelas dragas,

A ganância do areeiro?...

Quem escuta a voz das águas?

Quem escuta a voz do leito?

Pois quem deixa a voz do rio

Adentrar para o seu peito?...

Atentai pro seu clamor,

Criança, jovem, adulto;

Não deixem o rio morrer,

A terra ficar de luto!

O RIO QUE ERA DO POVO

O rio que era do povo

A esperança de pão:

Batata doce com peixe,

Macaxeira e camarão,

Tudo colhido no leito

Com a maior satisfação.

O rio que era do povo

Vazante pra criação,

Onde pastavam as vacas

Comendo capim no chão,

Por onde criavam cabras

Quando chegava o verão.

O rio que era do povo

Lugar de recreação,

Onde as crianças brincavam

Co’ alegria, exultação,

Jogando bola na areia,

Com tamanha animação!

Mas a ganância dos ricos

Achou-se a Dona Razão,

Cercando o rio com arame

Farpado, contra invasão,

Deixando o povo de fora

No tempo da assolação!

O rio que era do povo

Tornou-se só do ricaço,

Do fazendeiro egoísta

Que tomou conta do espaço,

Extraindo a areia do rio,

Vendendo em máquinas de aço!

Agora o rio é do rico,

O pobre não tem mais vez;

Não pode pescar piaba,

Pastorear sua rês,

E se atravessar a cerca

Leva um tiro, dois ou três!

MANIFESTO DO RIO

Ah... eu quero ser rio limpo,

Um rio saudável de novo!

Ah... eu quero ser rio livre,

sempre trazendo renovo.

Ser habitado por peixes,

seguir meu curso me deixes,

ser Paraíba do povo!

Eu quero o povo pescando,

eu quero o povo plantando,

eu quero o povo colhendo,

eu quero o gado pastando,

quero ver gente sorrindo,

crianças se divertindo,

nas minhas águas pulando!

As lavadeiras lavando

roupas com sabão de pedra,

cavalo se refrescando

depois de andar uma légua,

quero minhas águas seguindo,

quero está sempre servindo

aos habitantes da terra!

Não quero ser só lembrança

de um passado de glória,

eu quero ser esperança

desta nossa nova história.

Não quero ser prisioneiro

de cerca de fazendeiro,

nem quero ser saqueado

por dragas de areeiro!

Oh homens gananciosos

deixai o povo sofrido

ser em meu leito remido

com liberdade de novo!

Ninguém me cerque, me prive,

que quero ser rio livre

pra serventia do povo!

NO LEITO DO RIO PARAÍBA

No leito do Paraíba

Tinha tudo o que se pensar:

Tilápia, camarão,

Tomate e pimentão,

Pro pobre se alimentar.

No leito do Paraíba

O povo encontrava alento,

Pastoreava seu gado

E cultivava roçado

Para o seu mantimento.

No leito do Paraíba

Também tinha diversão:

Um futebol animado,

Depois banhar-se, suado,

Nas águas — que curtição!

O que restou de seu leito?

— Hoje só recordação.

Só guardamos na memória

Aquele tempo de glória,

De laser, de provisão.

Do leito do Paraíba

O que restou para o mundo?

— Um leito sujo, tão imundo,

Um leito tão degradado,

Um rio tão moribundo!

Do leito do Paraíba,

Deste torrão brasileiro,

O que deixou para a vida

Com ganância incontida

A empresa do areeiro?...

Crateras e mais crateras,

Um deserto verdadeiro!

Um leito tão saqueado,

Extraído, usurpado,

Exportado pro estrangeiro!

Por que tanta ambição

Do homem pra ter dinheiro?

Devastando a natureza,

Todo encanto, toda beleza,

Dum rio tão prazenteiro!

Oh rio da minha infância!

Haverá pra ti saída,

Para escapar da ganância,

Da maldade, da arrogância,

Dos areeiros da vida?!...

MINHA TERRA TEM PALMEIRAS

Minha terra tem palmeiras

Mas não canta o sabiá,

O seu canto foi levado

Pra cantar noutro lugar.

Minha terra tem palmeiras

Mas não canta o sabiá,

Foram contrabandeadas

As aves que tinham lá.

Admiro a minha terra,

A beleza do lugar;

Minha terra tem palmeiras

Mas não canta o sabiá.

Minha terra tem palmeiras

Bem poucas, é bom falar;

Foram muitas arrancadas

Pro pregresso se instalar.

Progresso?... Meu Deus do céu!

Que progresso tem por lá?

Se cortaram as palmeiras...

Se não canta o sabiá!

NA GAIOLA DA SAUDADE

Minha terra tem gaiola

Onde canta o sabiá

Com saudade das palmeiras,

Das belezas do lugar.

Minha terra tem gaiola

Onde canta o concriz,

Relembrando que outrora,

Na mata era feliz!...

Minha terra tem gaiola

Onde canta o curió,

Quando nada lhe consola,

Se sentindo muito só!

Minha terra tem gaiola

Onde canta a patativa,

Pra lembrar de vez em quando

Que ainda ela está viva!

Minha terra tem gaiola

Onde canta o canário,

Melodiando a sua dor

Num canto extraordinário!

Minha terra tem gaiola

Onde canta o azulão;

Certamente quando assola

Em seu peito a solidão!

Eu também canto cedinho

Quando acordo na cidade,

Relembrando a minha terra,

Minha infância e mocidade!

Também canto bem tristinho,

Sem ter mais minh’ liberdade,

Me sentindo um passarinho

Na gaiola da saudade!

FIZ DE CONTA

Fiz de conta não te amar,

Mas não pude te esquecer;

Quanto mais me fiz negar,

Mas te amei dentro do ser!

Fiz de conta não sonhar

Amando-te, com prazer;

Fiz de conta não somar

Teu amor com meu viver.

E essa conta desmedida,

Mal somada, dividida,

Eu não soube calcular...

Mas o amor ele é perfeito

E hoje conto no meu peito

Que não vivo sem te amar!

O POVO É QUEM PAGA A CONTA

Olha o pato que paga a conta!

Olha a conta que paga o pato!

Mas a paga do pato conta?

Vale a conta que o pato paga?

Não precisa fazer a conta

Pra saber o valor do prato?

Mas se a gente não paga a conta

Quem é que vai pagar o pato?

Só precisa fazer de conta

Que o pato é quem paga o prato?

Coitado do dono da conta

Ou coitado do pobre do pato?

O governo é quem faz a conta

E o povo é quem come o prato?

É tanto imposto que conta!

É tanta comida pro mato!

Pois do povo é tão grande a conta

E pouca comida no prato;

O governo faz sempre a conta

E o povo é quem paga o pato!

MAS QUE COISA!

A gente pensa que uma coisa é uma coisa

E nessa coisa pomos nossa fé,

Mas nem sempre uma coisa é uma coisa

Como a gente pensa que a coisa é!

Pensa que uma coisa é uma coisa e até

Pomos nossos sonhos sobre a sua lousa,

Mas de repente ela vira outra coisa

E a gente, pra escapar, dá marcha ré!

Mas que coisa é essa coisa? Será coisa

Que a gente compreendê-la jamais ousa

Ou será como um simples busca-pé?...

Essa coisa não é coisa marciana,

Sim, essa coisa é a natureza humana,

Imperfeita e imprevisível como é!...

RESSURREIÇÃO DA POESIA

Meus cadernos de poemas

Certo dia eu os queimei,

Não queria ser poeta,

A poesia condenei.

Eu pensei que era pecado

Contra Deus e contra o céu

Viver com a poesia

Debaixo de meu chapéu.

Foi então que incendiei

Os poemas que escrevi!

Pus fogo em meu passado,

Mas na vida prossegui...

Cinco anos se passaram,

Na política enveredei;

Fiz amigos, inimigos,

Me casei, enviuvei...

Com meu Deus dialoguei,

Pedi novo casamento,

E de novo me apaixonei:

Aflorou meu sentimento.

De repente a poesia

Ressurgiu dentro de mim,

Com uma força de enchente

Que nunca mais teve fim!

QUALQUER DIA DESSES

Qualquer dia desses

Porei fogo nos meus sonhos

E os sonhos todos fogosos

Arderão em meu coração.

Qualquer dia desses

Farei poemas sem rimas,

Farei poemas contentes

Como quem brinca na chuva.

Qualquer dia desses

Escreverei versos de amor,

Beijarei pétalas de flor,

Far-me-ei poeta romântico.

Qualquer dia desses

Visitarei meu amigo,

Surpreenderei meu inimigo

Com um gesto de perdão.

Qualquer dia desses

Cantarei uma canção;

Infantil, tão infantil,

Que adormecerá os velhos.

Qualquer dia desses

Serei eu mesmo. Sim!

Com as minhas virtudes

E todos meus defeitos.

Qualquer dia desses

Serei aluno da vida,

Serei a vida ensinando

A ser da vida aprendiz.

Qualquer dia desses,

Sem estares esperando,

Quando menos esperar

Estarei te abraçando!

Qualquer dia desses

Eu serei bem mais feliz,

Pois ouvirei meu coração

Muito mais que a razão!

NO SOMATÓRIO DO AMOR

No somatório do amor

Somei carinho, atenção,

Respeito, compreensão,

Somei verdade e valor.

No somatório do amor

Somei a paz, o perdão,

Vera amizade, união,

Felicidade e não dor.

Somei também emoção,

Só não somei a razão

Por não poder explicar

Por muitas vezes na vida

As sem razões desmedidas

Da arte divina de amar!

NA SOMA DOS MEUS AMORES

Na soma dos meus amores

Que o tempo foi-me outorgando,

Que fui, intensamente, amando,

O que me restou? — só dores?

Na soma dos meus amores

Que a vida foi-me ofertando,

Que fui, em versos, cantando,

O que me sobrou? — só flores?

Na soma dos meus amores

Restou-me mais que as cores

Das lembranças... Da saudade...

Restou-me, para saberes,

Olores... Risos... Prazeres...

O sabor da f'licidade!

TINHA UM POEMA ESCRITO NO MURO

Tinha um poema escrito no muro,

Tinha um poema escrito no muro,

Tinha um poema escrito, eu juro!

Como uma estrela brilhando no escuro,

Como uma semente rompendo o chão duro,

Como uma esperança apontando o futuro,

Como um conselho para o imaturo,

Como uma seta pro caminho seguro,

Como um grito livrando de apuro,

Tinha um poema escrito no muro,

Tinha um poema escrito no muro,

Tinha um poema escrito... Eu juro!

— Antonio Costta