Vaidade vã
Que horror tenho
Destes teus cabelos
Meticulosamente tingidos
Para renegar teus grisalhos
E esses dentes tão esbranquiçados
Tal qual como se fossem alvejados
Com doses alopáticas
De pura água sanitária
Prefiro a fumaça tóxica
Dos meus tragos dolentes
Que afloram com o passar dos dias
A beleza do amarelar
Como detesto tirar retratos
Tantas vezes tenho que fingir
Forçar o sorriso e a felicidade
Sem a singela espontaneidade
E agora inventaram o botox!
Injetado pra inchar a cara
Feito a minha
Em dia de ressaca
Não se cansa de perseguir
De tentar ser o que não se é
Com força bruta, seu espelho foi quebrado
E assim Narciso se perdeu
E conheceu uma senhora
De idade centenária
Suas mãos fracas
E a pele toda rachada
As vistas já cansadas
Não muito enxergava
Mas seu brilho interno
No semblante reverberava
E se sentiu orgulhosa
Pois seu estado carcomido
É o cumprimento de sua história
Sabe que do pó, não há escapatória!