MEUS POEMAS PREFERIDOS
UM JUNTADOR DE PALAVRAS
Os loucos vão pela rua
Procurando uma razão;
Os músicos ferem as cordas
Procurando uma canção.
Os rios procuram o mar,
As abelhas procuram as flores;
Os dias procuram as noites;
Nas noites, procuram-se amores!...
E eu procuro no tempo
Algumas belas palavras;
Pérolas vagando ao vento,
De ouro -partículas, lavras.
Sou um caçador de emoções,
Sou um juntador de palavras;
Componho poemas, canções,
E dos pássaros -as suas asas!...
Sou menino e sou adulto,
Sou sério e sou brincalhão;
Canto com um olhar astuto
O que manda meu coração.
Se sofro... –de quem é a dor?
Quem melhor pode senti-la?
A dor é minha -e meu é o amor-
E pouquíssimos querem ouvi-la.
Por isso contenho-me apenas
Em juntar algumas palavras;
Que formarão simples poemas,
E retornarão ao vento, às vagas!...
Tornei-me um caçador de penas
Ou de belíssimas aves raras?
Não importa, tornei-me apenas
Um "juntador de palavras"!...
— Antonio Costta
"VERDE QUE TE QUERO VERDE"
(Inspirado no verso de Frederico Garcia Lorca)
Verde que te quero verde
Na floresta enverdecida,
Verde cada vez mais verde
No palco verde da vida!
Como era a vida tão verde,
Como era tão verde a vida!
Verde vida vida verde
verde verde vida vida!
Mas o verde que gera vida
Fora dos olhos mais verdes
Virou deserto sem vida
Virou floresta queimada,
Virou poeira e carvão
Que se levanta na estrada!
Virou conjunto de casas
Virou um solo asfaltado.
Oh! Homem que o verde tira,
Que atira fogo no verde,
Por que fazer sua mira
No alvo verde da terra?
Não vê que faz uma guerra,
Que contra a si mesmo atira?
E quando que verde vira
É diferente sua lira!
É um verde horizontal
Do vasto canavial;
Não é verde replantado,
É verde vasto de soja
E dos cercados de gado!
Pois acha mais importante
Enriquecer num instante,
Empobrecendo o futuro;
Não ter oxigênio puro,
Não ter floresta nem nada,
Não ter pássaro que cante,
Não ter uma onça pintada,
Um verde mais verdejante...
Viçoso com a invernada!
— Antonio Costta
NO CHÃO DA SAUDADE
Prossigo sereno revendo a história
No vasto terreno do chão da memória.
Tão cheio de terra brincando no chão
De bola de gude, carrinho e pião.
Lá pego canário com meu alçapão,
Lá pesco piaba com meu jereré;
Facheio rolinha com meu lampião
E brinco de bola imitando Pelé!...
Lá faço brinquedos de tábua, de lata,
E sei tirar mel de abelha na mata!
Sou bem mais feliz — não posso negar...
Onde fica esse chão? em que tempo? espaço?
No chão da memória me perco e me acho...
— Chão da saudade da velha Pilar!...
Antonio Costta
RECORDAÇÕES DA INFÂNCIA
Buscar água escanchado num jumento
Conduzindo incuretas nos cambitos,
Ouvindo o som das vacas, dos cabritos,
Dos nhambus que ecoavam pelo vento!...
Elegias que guardo no pensamento:
Ouvir a minha avó cantar benditos,
Ouvir de meu avô antigos ditos,
Anedotas e histórias de relento...
Fisgar peixes no açude ou lá no rio,
Tomar banho de chuva, sem ter frio...
Emoção que inda guardo. Indescritível...
Comer jaca no pé, manga e cajá,
Na fogueira assar milho com sinhá...
— Minha infância assim foi inesquecível!
Antonio Costta
CHIBATA PRETA
Quem é que não se lembra
De uma negra, Chibata,
Que morava na Estação
E cozinhava em uma lata?
Eu vinha de Chã de Areia,
Por Figueiredo passava,
E chegando na Estação
Chibata Preta encontrava!
Conhecida por Chibata,
Chibata, Chibata Preta,
A pobrezinha, coitada,
Não tinha posses nem letra!
Era uma pobre indigente
Que morava bem ao léu;
Tinha por cama - o chão,
E por cobertor - o céu!
Um amontoado de lixo
Na margem daquela rua;
Era a “casa” da Chibata
Iluminada pela lua...
E por que “Chibata Preta”,
Também queres entender?
N’era porque tinha uma chibata
Pra si mesma defender.
Era porque a pobrezinha,
Que cozinhava em uma lata,
Era magra e pretinha
Parecendo uma chibata!...
Era a Chibata Preta
Conhecida do Pilar
E também da região
Que vinha nos visitar.
Era o terror das crianças
Aquela negra Chibata,
Que morava na Estação
E cozinhava em uma lata!...
Mas um dia a pobrezinha
Partiu da nossa cidade;
Pois passava frio e fome,
Tamanha necessidade!
E Pilar ainda se lembra,
E alguns sentem saudade;
Daquela mulher pretinha...
Que partiu pra eternidade!
Antonio Costta
A VIDA CONTINUA
A vida continua
quer no campo ou quer na rua
sob o sol ou sob a lua
vestida ou mesmo nua
sobe o mar e sobre a terra
quer em paz ou quer em guerra
lá vai a vida vivendo,
lá vai a vida passando,
lá vai a vida sorrindo,
lá vai a vida chorando,
lá vai poeta escrevendo,
lá vai soldado brigando,
lá vai a chuva chovendo,
lá vai as flores brotando,
lá vai o sol se escondendo,
lá vem a noite chegando!
Pois a vida continua,
continua, continua!...
Depois da tempestade,
depois do terremoto,
depois do amor achado,
depois do amor perdido,
uma coisa eu logo noto,
é que a vida não se acaba,
é que a vida ela prossegue,
surpreendendo, ressurgindo,
dentre as cinzas como fênix,
como flor em meio as fendas
do concreto retorcido.
Por isso não vale a pena
dar-se agora por vencido,
trancar-se no seu quarto,
trancar-se dentro de si,
porque a vida ela não para,
com você ou sem você,
ela vai continuar!
Viva, viva, muito viva,
brilhando ao anoitecer
e também, muito mais viva,
quando o dia amanhecer!
— Antonio Costta
NEM TUDO QUE RELUZ É OURO OU PRATA
Nem tudo nesta vida nos convém,
Paulo escreve deixando bem explícito:
“Tudo é bom, mas nem tudo nos é lícito”,
Provai tudo, mas só retende o bem!
Precisamos enxergar mais além,
Há espinhos nas flores do jardim;
O mundo se camufla para mim...
Porque nem todo abraço amor contém!
Preciso de Jesus na minha vida,
Pois o caminho é estreito e tem subida,
E não posso abandonar minha cruz...
Pois a vida a cada dia nos retrata:
Nem tudo que reluz é ouro ou prata...
E só existe uma esperança: é JESUS!
— Antonio Costta
A FALSIDADE DESTE MUNDO
Neste mundo é tamanha a falsidade
Que a verdade, de repente, ocultou-se;
A mentira transformou-se em verdade
E a verdade, em mentira, transformou-se!
Porventura alguém sabe onde a verdade
Neste mundo hodierno extraviou-se?
Em que parte do planeta a bondade
Inda não, em maldade, adulterou-se?
Oh Senhor, nos livrai da falsidade!
Que opera neste mundo de maldade,
Da forma mais arguta e traiçoeira...
Pois no mundo a maldade não se espira:
A verdade transformou-se em mentira
E a mentira — em verdade verdadeira!
— Antonio Costta
A INGRATIDÃO DA HUMANIDADE
A ingratidão, meu Deus, esta pantera
Que habita o coração da humanidade,
Ignorando o amor e tua bondade,
Chamando-te até mesmo de quimera!
A ingratidão, meu Deus, no mundo impera.
Fazer o bem parece iniquidade!
O agradecimento é leviandade,
Sempre da parte de quem não se espera!...
É contumaz, meu Deus, homens ingratos,
Comer teu pão, depois cuspir nos pratos,
Ignorando o amor com que fizeste!...
E se lhes pede comida, um faminto,
Ignoram o pobre no recinto,
Negando repartir do que lhes deste!...
— Antonio Costta
ESTENDE AS TUAS MÃOS
Estende as tuas mãos aos necessitados,
Aos que passam por grandes provações;
Pois saiba que nos Céus são registrados
Todo bem que fizerdes - tuas ações...
Estende as tuas mãos aos desabrigados,
Aos que passam nas ruas suas aflições;
Aos que pedem um pão, desesperados,
E mendigam afeto aos corações!...
Atentai p'ra sua dor, para os seus gritos,
E estende as tuas mãos para os aflitos,
Que carecem de amor, felicidade...
Recolher as tuas mãos é grande risco,
Pois quem sabe o pedinte é Jesus Cristo,
Disfarçado, pra provar tua caridade!...
— Antonio Costta
QUEM DER ESMOLAS
Quem der esmolas não dê
como quem toca trombeta,
mas dê de forma secreta,
para ninguém mais saber.
Quem der esmolas não dê
pra parecer piedoso,
um homem bom, generoso,
uma excelência de ser.
Quem der esmolas o faça
sem propagar pela praça,
sem comentar com os seus...
Que o bem que a gente pratica
bem registrado ele fica
nos livros do nosso Deus!
— Antonio Costta
SE AS PEDRAS FOSSEM FLORES
Mas já pensou se pedras fossem flores?
Que alegria seria ser apedrejado!
Chamaríamos, por certo, de amores
Todos que pedras têm nos atirado!
Mas já pensou se pedras fossem flores?
Como o caminho seria perfumado!
Lindo jardim, repleto de primores,
Com flores surgindo por todo lado!...
Que pena que as pedras flores não são!
E piores são as da ingratidão
Quando acertam, pelas costas, nosso ser!...
Ficamos, de tal forma, estarrecidos
Que tardamos nos dar por convencidos
E a ninguém desejamos convencer!...
— Antonio Costta
ONDE SEU GESTO PASSOU
Onde seu gesto passou
A noite fez-se estrelada,
A lua fez-se mais bela
E a vida mais encantada.
Onde seu gesto passou
Deixou a terra florida,
As almas plenas de sonhos,
Os sonhos plenos de vida!
Onde seu gesto passou
Deixou perdão e guarida,
Deixou justiça e igualdade,
Felicidade incontida.
Onde seu gesto passou
Deixou a esperança ativa,
Um novo tempo brotado
Nos escaninhos da lida!
Onde seu gesto passou
Deixou a guerra vencida,
Deixando o mundo feliz
Gozando a paz auferida.
Onde seu gesto passou
Na terra teve esplendor;
No mundo teve bonança,
A paz de nosso Senhor!
Que gesto pode ser esse
Que muda tudo na vida?
Que faz do triste — feliz!
Que cicatriza a ferida!
Que gesto pode ser esse
De imensurável valor?
— é o gesto dum sentimento
Chamado apenas de AMOR!
— Antonio Costta
UM MILAGRE
Um milagre acontece em minha vida
Todo dia quando acordo e, tão profundo,
Eu contemplo a terra, o mar, o céu, o mundo,
A luz do sol nas águas refletida!...
Um milagre acontece em minha vida
Quando escuto os alegres cantarilhos
Da minha esposa, o riso dos meus filhos,
Quando a minha família vejo unida!...
Eu só tenho, Senhor, que te louvar
Pelas bênçãos que estás a derramar,
Dando-nos saúde, força e guarida...
Pois toda vez que vejo o pão na mesa,
A família presente... — que beleza!
Um milagre acontece em minha vida!
Antonio Costta
Antonio da Costa Silva (Antonio Costta) é poeta, escritor e artista plástico brasileiro, natural do município de Pilar, Estado da Paraíba. É casado, pai de três filhos e presbítero da Igreja Assembleia de Deus (Missão) em Itabaiana-PB, onde reside a 19 anos. Tem 20 livros publicados e é autor da letra do Hino Oficial do município de Pilar-PB. É membro da Academia de Cordel do Vale do Paraíba.
Seus livros estão disponíveis para venda no site do Clube de Autores, neste link:
https://clubedeautores.com.br/books/search?utf8=%E2%9C%93&where=books&what=ANTONIO+COSTTA&sort=&topic_id=