ARFADOS
Tudo cai das minhas mãos, os fatos
e o vidro que parece ser só de água;
e as coisas enviezam todas para o ralo
das horas e dos vis artifícios da alma.
Sigo feito algo que pode soar distraído,
mas na verdade está dentro desse ofício:
o de reparar nas cores do que é invisível
e o de inverter a polaridade dos sentidos.
Tenho chance de saber o que você sente,
pois também sinto — aquela onda quente
quase evaporada, aquele ruído ruim rente
que rói o bucho e a gente solta de repente.