AURIVERSOS VERSADOS

Tenho me mordido

e me picado

chupo o veneno e tenho me contaminado

aonde tenho ido

nunca deveria ter estado

lá sou Rei Rainha Cozinheiro Médico Parteiro

lá tenho umedecido algodão

e na minha testa tenho colocado...

Me vanglorio de feitos e nada fiz

para que assim fosse

assim suponho que em delírios

um sonho aqui me trouxe

e por pura desfaçatez e alegria

tenha ali me largado como um feno

malagradecido ali lançado...

Tenho me ouvido e tenho me escutado

voz auriversa versada em versos deflorados

em velhos cadernos rabiscos tenho posto

e neles singularmente vejo meu rosado rosto

manchado de sofreguidão e desvarios

a baba que corre é um rio

a língua um posto avançado

em noites de frio...

Pernas nos ombros e cabeça entre as pernas

a ciência diria que me esculpo arte moderna

não me desculpo se mijo na cisterna

e nem que nem faço de conta

quando as contas não batem

e nem batem na porta eterna

que a chave tenho e não abro

pura delicada razão terna...

Tenho vivido entre o ir e o ficar

sob a beleza da luz do circo singro

as mais peripatéticas peripécias nesse estar

tão de repente que pouco digo e não minto

que das coisas boas sei que uma delas é amar.