JURAS

Dizem que, ao se sentar, de madrugada,

numa pedra ao luar,

os ouvidos se encherão com cantos

de sereias tristes que por seus amados,

um dia, se puseram a cantar;

marinheiros de tantas navegações

de coração em riste juras fazem

de abandonar as águas de tão revolto mar...

Tão doce e melodioso é o canto

que se projeta no espaço

que um deus abandonado pelos homens

levanta os braços e canta a ode

de antes do começo do mundo e as luzes

tardias de estrelas separadas de seus sois

árias rugem...

Oh tempo que gasta a pele de cada sentido

e vasta é a morte!

Deixe que os guerreiros deste tempo

tentem a miúda sorte de não se afligirem

pondo peitos à frente de flechas

que alvos procuram na escura

noite de promessas...

Juro-te, diz o coração aceso,

não morrerei nem de medo!

Do alto da mais alta montanha

ruge a vingança agnóstica

benzendo-se ao som de batuques

tocados por anjos obesos!

Você estragou meus planos...

Tentei ser infeliz, não ver o rio correr

com seus brilhantes peixes

e os homens nas margens,

sonhando banquetes regados a vinho,

tentei não supor haver estrelas suficientes

para cada olhar,

que haveria musas perdidas nos quintais

do cosmos,

tentei olhar o dia como se já anoitecesse,

mas você estragou meus planos...

Tentei dar respostas erradas

para perguntas certas,

desenhei becos e lá meus pés pus,

como um errante vagabundo,

da flor que me olhava com suas íris de pétalas

recusei o perfume, mesmo que me entrasse

narinas adentro,

supus, e contei à todos, que me perderia

numa floresta para ser, enfim, devorado

por meus sonhos...

Mas você estragou os meus planos...

Algo em mim se movia e nada que fizesse

podia parar esse sentimento,

reparei no voo de aves que rodopiavam

céu adentro,

o arrulho de pombas em seus ninhos

de galhos recolhidos,

nos vitrais de catedrais vi anjos,

e não eram de vidro...

Como um tapete a vida se estendeu

e pude caminhar ao seu lado,

coisas que me feriam passaram ao largo,

ruínas se recompunham,

dragões voaram ao meu redor,

no lago tranquilo um negro cisne

desenhava nossos nomes:

pude sentir o que era amor.