Das alturas
Quando voei pela primeira vez e o avião cortou as nuvens as lágrimas me vieram. Foi algo inexplicável. As nuvenzinhas são montinhos brancos... Novelos de lã? Algodão doce? Algodão florido?
É tudo isso! Virei criança.
As formas todas que imaginei quando nos meus seis anos me deitava na grama olhando as nuvens parece que se juntavam e passeavam nos ares.
Mas agora elas estavam embaixo! E eu acima delas...
Foi paz, o que senti?
Sim. Profunda. Todas as pessoas queridas que já morreram eu as senti junto a mim, incrivelmente próximas. João, Vilmar, Celso, Rodrigo, Rosária...
Tudo calmo, tudo lento. Será assim a morte? Um tempo que não passa? Um espaço sem fim?
E aí, de repente, eu tinha, ao mesmo tempo, cinco, quinze, trinta, sessenta, oitenta anos.
Transcendidos os limites, altaneiro e aquietado de toda a agitação, já não fora, já não seria. Simplesmente era. Eterno.