Das alturas

Quando voei pela primeira vez e o avião cortou as nuvens as lágrimas me vieram. Foi algo inexplicável. As nuvenzinhas são montinhos brancos... Novelos de lã? Algodão doce? Algodão florido?

É tudo isso! Virei criança.

As formas todas que imaginei quando nos meus seis anos me deitava na grama olhando as nuvens parece que se juntavam e passeavam nos ares.

Mas agora elas estavam embaixo! E eu acima delas...

Foi paz, o que senti?

Sim. Profunda. Todas as pessoas queridas que já morreram eu as senti junto a mim, incrivelmente próximas. João, Vilmar, Celso, Rodrigo, Rosária...

Tudo calmo, tudo lento. Será assim a morte? Um tempo que não passa? Um espaço sem fim?

E aí, de repente, eu tinha, ao mesmo tempo, cinco, quinze, trinta, sessenta, oitenta anos.

Transcendidos os limites, altaneiro e aquietado de toda a agitação, já não fora, já não seria. Simplesmente era. Eterno.

José Carlos Freire
Enviado por José Carlos Freire em 19/11/2020
Reeditado em 19/11/2020
Código do texto: T7115676
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