P R E C I O S I D A D E S (239)
SONETO DO AMOR MAIOR
Maior amor nem mais estranho existe
que o meu, que não sossega a coisa amada
e quando a sente alegre, fica triste,
e se a vê descontente, dá risada.
E que só fica em paz se lhe resiste
o amado coração, e que se agrada
mais da eterna aventura em que persiste,
que de uma vida mal-aventurada.
Louco amor meu, que quando toca, fere,
e quando fere vibra, mas prefere
ferir a fenecer - e vive a esmo
Fiel à sua lei de cada instante,
desassombrado, doido, delirante,
numa paixão de tudo e de si mesmo.