alquimia

teu silêncio me fala pelo peito

vibra e gesticula,

forçando a gravidade das coisas

como luz a dobrar-se

diante a atração de uma singularidade

teus olhos vislumbram um futuro distante

eu me perco nas linhas do teu tempo

e você segue sozinha

distante, longe

além do alcance

e agora imerso em mim, eu fito o horizonte

vejo nele o fim de todas as coisas

e o mundo em líquido escorre

feito aquarela numa tela

desfeito,

a água desmoronando o linho da pintura

eu me vejo em branco (de novo?)

pego os pincéis,

perdidos em algum lugar da alma

e recomeço

feito livro ou quadro

escultura ou retrato

juntando os cacos e inspirando no ar

o sabor das frustrações

um artista solitário num mundo lusco-fusco

pintando a história da vida numa nova alvorada

traçando linhas dum céu azul

em direção ao zênite