Existir é de algum modo partir.
Rugas, cabelos brancos, sorriso banguelo disfarçado pela prótese dentária, seu passo segue mais lento cada dia, a memória aos poucos falha esquecendo das incontáveis histórias que viveu.
Se pudéssemos, iríamos querer uma fórmula mágica para viver eternamente, que sonho não!? Mas não, não temos, somos meros mortais.
Prestando atenção, estamos morrendo ao mesmo passo que vivemos.
O vigor que tínhamos, dá espaço para o cansaço, as olheiras, o corpo exausto, além dos músculos que ficam flácidos.
Pra onde foi aquela disposição da juventude?!
Não digo que desapareceu, deve estar escondida em alguma veia que pulsa sangue, só que em outra velocidade.
É preciso aos poucos ir aceitando a minha e a sua idade, embora às vezes demore, talvez porque desejamos ser sempre jovens, sagazes, ágeis e independentes.
Quando olhei pra você, aos poucos percebi cicatrizes bem salientes como emblemas de sua existência, me senti impotente. Desejo meu era te guardar em um potinho de vidro cristalino, e te olhar sempre que quisesse, mas você não caberia nele.
Pensei alto, será que foi a realidade se confundindo com minha imaginação? Não sei. Ou sei e tenho medo de estar certa.
Você há de convir comigo que quando se trata de finitude seja lá do que for, nós humanos adiamos o máximo que conseguimos. Mas com a morte não é assim. Chega sem avisar, sem ao menos pedir licença.
As lágrimas rolam, tocando levemente o sorriso que esboçou disfarçadamente, recordando dos momentos vividos intensamente.
Sim, sorrio e choro conjuntamente.
Suspiro, repito incansavelmente,
Existir é de algum modo partir.