O Cego Cantador
O cego cantador prostrado
Pelos degraus do templo santo
Em estado tísico, segurava o cajado
Um couro e osso, balbuciando:
"Passa tempo, passa hora
Não proíbas a demora
Toda alma que hoje chora
Amanhã sorrirá
Sou o profeta do absurdo
Peregrinei pelo mundo
E versei nas profundezas
Onde jaz toda a esperança
Da fé caridosa vivi
Desprezo demais sofri
E no final do dia ainda
Sobejava o Óbolo de Caronte
Por ainda não ser
A minha breve e finda hora
Sempre tratei de volver sem nada
E de outros cuidei da fome nefasta
Na minha cabana
O teto são folhas
E o chão é lama
Glória a Deus que ainda me ama"