Mantendo-se de Joelhos
Em um subconsciente agradável a memória,
Dentre a maior escória,
Vive solidão pulsante,
De um sentimento inconstante.
Me mantenho vivo por brasa cabresca,
Escudo de sangue seco e carne fresca,
Sob a égide do Leão e da Cabra,
Acorrentados a essa canção macabra.
Por uma alma gentil, tocando meu semblante,
Um instante,
Poderia ter doado coração,
Pulsa forte em emoção.
Mas, até o Rei Corvo, encontrou-se confinado,
Suas asas, encontravam o chão cavado,
O coração prometido, despedaçado,
Em seus joelhos veias,
Nas suas mãos, cacos.
A franja escondia os olhos fundos,
Os ombros moribundos,
Comandante que não reina sob ti,
A crítica ameaça sobre si.
O sobretudo pendurado entre as ombreiras,
Suor engrossando suas sobrancelhas,
Pesado eram seus pensamentos,
Aflitos são os sentimentos.
Pois, d’outro ser gentil veio a caridade,
Por outro sorriso conheceu a bondade,
Quando pensou em alguém digno de seu coração,
Encontrava-se catando cacos meio ao chão.
Mantendo-se vivo por natureza,
Tua destra, sua arma, avareza,
Porventura sangrava entre os dentes,
Por que me atormenta?
Porque mentes.
Casuístico ajoelhou sob seu prazer fragmentado,
Para que nunca conseguisse recobrar a lucidez,
Procuraria eternamente pela plenitude,
Que sonharia em altitude,
Mas mantendo-se em joelhos,
Não teria medo de voar.
Forasteiros curiosos procuravam ajudar,
Mas batia as asas para espantar,
Meio à areia do antigo reinado,
Mostrava corpos que mantinha enterrado.
Qualquer diálogo eram restringidos a primeira pergunta,
“Refletido sob a luz da verdade,
Qual a cor do seu choro quando o Sol arde?
Dentre os sóis do meu reino,
Seja Amarelo ardente ou Sol eclíptico,
Qual te reflete na saudade”?
Mantendo-se de joelhos eternamente,
Confinado na própria mente,
O Rei Corvo, não queria decepções,
Por ações ou omissões.
Firme em terra árida,
Contra sua crença de ave rápida,
Recolheu as asas a capa,
Perdeu pincel, tinta, mapa.
Aos desbravadores do deserto,
De certo, encontrariam fogaréu meio a areia,
Como aranha em teia,
Veriam sentimentos imolados.
Na escuridão dianteira,
Quando o véu da noite cobrisse,
A ele mesmo disse,
“Essa é uma vida inteira”.
O corpo, jovem,
O coração antiquado,
A esperança morre,
A mente se prende meio ao quarto.
Um dia os joelhos machucados cicatrizarão,
As feridas dolorosas aliviarão,
Colocar-se-á de pé sob concreto e mármore,
Gritará como corvo em eterna árvore.
Sua coroa forma-se por penas das asas até a cabeça,
Sob o céu turquesa,
Sinal do céu cerúleo,
Alinhado a Mercúrio.
Os eclipses e supernovas,
Misturadas as prosas,
Determinam seus contos nas nebulosas,
Todos nossos,
Todas nossas,
Sobrevive com as esperanças mortas.
O Rei Corvo,
Depois do inverno gélido,
Percorre as margens dos Rios Forrados,
Ocultos em camadas de pétalas.
Em Inverno, qual cor ficaria suas asas n’água?
Formaria o Rio Prata,
Ou Rio Estige,
Requer a alma que o tinge.
Mantendo-se em joelhos meio a margem,
No que tangem, na miragem,
Teu horizonte, formoso e suspeito,
É armazém de dor no peito.
Foi-te embora, esqueceu das peças,
Sob passos depressas,
Ergueu-se por egoísmo,
Amor, misticismo.