DO LADRÃO AO DESABAFO MOMENTÃNEO

O filho da puta me roubou

O filho da puta me violentou

O filho da puta me humilhou

O covarde com arma na mão sorriu

O covarde com arma em punho me envergonhou

O covarde com a arma entre os dedos sorriu

O antes suspeito me assaltou

O antes suspeito me fez beijar a morte

O antes suspeito me sacudiu e retirou-me do “sono dogmático" da bondade humana

O meu eu que não conhecia reagiu

O meu eu culpou a pobreza

O meu eu cobrou do Estado

O eu se sentiu furtado

O eu viu a impotência dos homens de caqui

O eu se sentiu enganado

Minha alma gemeu

Minha alma lembrou-se de Deus

Minha alma pediu socorro

A sociedade dos indivíduos é covarde e conivente

A saciedade dos indivíduos é fascista

A saciedade dos indivíduos e cômica e quer sangue

Não espere o bom samaritano

Não há compaixão

Não há perdão

Somos vulneráveis

Somos porcos e animais em um mundo de ilusões

Somos impotentes

Diante do trauma é difícil perdoar

Diante do trauma é difícil pensar em vítimas sociais

Diante do trauma desejo que eles morram

A violência tem essa dura face

A violência nos traz o que temos de melhor

A violência nos traz o que temos de pior

Perdoe-me Deus

Perdoem, eles não sabem o que fazem

Perdoe, mas não consigo perdoar

Perdoe-me... pois nesse momento quero que eles morram. Não merecem viver.

Lúcio Alves de Barros (27 de setembro de 2006)