NÃO MAIS

Não quero mais amar como um homem;

quero amar como um colibri, que beija sua flor,

a faz delirar, ela lentamente se abre, se expande,

fazem o amor original, o sol se enrubesce, ri,

tinge as asas, a graça antes da maçã...

Não quero mais servir a nenhum propósito,

obedecer a regras, me confortar com filosofias,

quero ser como a água que desce a montanha

em busca do abraço suorento do mar, me afogar,

lembrar de cada afago em cada pedra rolada...

Não quero mais amar as flores e odiar o vento

que as despetala, deixá-las nuas, oferecidas,

nem morrer de amor pelos brancos lírios

e detestar os cactos espinhosos, tristes,

olhando os cajueiros e seus cajús...

Não quero amar uma mulher só por ser fêmea,

um dia gerar filhos, rir como um sol no circo,;

quero amar como a nuvem que se despede

das gotas que voltarão, um dia, quero amar

como a cerda do violino que lança sua música,

amar como a língua, devoradora, mergulhada

no sorvete, amar como o amor se ama

sem ser Narciso, o amor antes do Paraíso...

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