PRÓDIGA POESIA
PRÓDIGA POESIA
Estava com sono,
mas a poesia
chegou-me inesperada;
claro que não te abandono,
flor silvestre orvalhada.
Vejo-te, poesia, ainda
sonolento,
embora agrade-me
o teu sorriso;
inspiro-me em teu olhar
desatento,
de quem chega
e não me envia aviso.
Ver-te em sonolência,
é como nutrir-me
em sonho;
de teu cheiro
que me tira a dormência,
diluindo-se
no poema que componho.
A poesia não se importa
com minha soneira,
como também
não me importo
com teu sono;
não me inspire, poesia,
à tua maneira,
pois o que escrevo,
brota apenas de meu ressono.
Então, se de algum modo
te agrado,
compondo algo
que te seja poético;
deixa-me cumprir o sono
inesperado,
minha pródiga poesia,
espelho da arte
com senso ético.
Adilson Fontoura