POSSÍVEL POESIA
O sapato, boquiaberto,
de boca arregalada, pergunta:
qual o caminho certo?
E anda e roda e gira e pisa
e muda a rota e abre a porta
e para e vira e espera e avisa
que se cansou e vai embora...
A caneta, grávida,
medindo a temperatura, diz:
será que é hoje que viro chafariz?
E tinge e finge e pinga o líquido
e mancha a branca face neutra
e brota o verso amplo e mítico
e o tato tateia e liga pro terapeuta...
O homem, tenaz e de tez macia,
usa a musculatura desenvolvida
para trazer à tona
a possível poesia...