Cicatrizes
Minh'alma vai se derramando
Quase não acredito na infinitude
Das águas que dela escorrem ...
Quem observa minha quietude
Não sabe do meu rio desaguando
Não sabe das dores que morrem
E nem daquelas que viram poesia
Não sabe das dores que sangram
E nem daquelas que já cicatrizaram
Olho as cicatrizes do meu corpo
São poucas, quase nenhuma...
Mas, aquelas que habitam a minha alma
Estas... são por demais profundas
Já não me doem tanto quanto antes
Mas, às vezes, por ínfimos instantes,
Latejam, me dizendo " Estamos aqui!"
E , serena, respondo " Eu sei!"
Por essas cicatrizes, já chorei
Mas também, algumas vezes, sorri
Por saber que não são mais feridas
São marcas que me fazem lembrar
Como cheguei aqui e me tornei quem sou
Que eu poderia ter me perdido na trilha
Mas, ao contrário, aprendi a ser forte
Sozinha, precisei aprender a me reinventar
Nada foi azar nem tampouco sorte
Não me entreguei aos apelos da morte
Eu , com tinta de sangue, reescrevi minha vida
No papiro de minha alma quase vazia
Preenchi o preto e branco de cores
Percorri o caminho dos amores
Que me levaram para dentro de mim
Hoje sei que nunca chega o fim
Pois sempre recomeço e me reinvento
Mesmo que a alma não caiba aqui dentro
Por isso,.vou me derramando
E, em poesia, me transformando...