ÁRVORES, FRUTOS E SONHOS
No alto de uma árvore havia frutos belos e desejei toda vez que passava por lá comê-los; saborear a minha vontade e, por tal esse fruto se tornou tão gostoso. Tem dias também que mal chego perto, prefiro passar o dia trabalhando, sem ter que voltar pra casa... a qual não me pertence mais, nem o fruto, nem a árvore. Na verdade, era baixo seu galho mas criei obstáculo; assim tornava minha volta, árdua e inquieta.
Todos parecem todos e os diferentes andam mudos, sabem as respostas que tem se fazer as perguntas que querem, é o mau, ser silencioso. Foi até se deparar um dia, um belo dia tudo poderia acabar e ninguém mais citaria seu nome, numa padaria, na mesa da janta ou assistindo propagandas obrigatórias - me diz o que não é obrigatório na vida! Não sou eu faz muito tempo, meus brinquedos sumiram, não sou herdeiro e nem faço casos... meu recente desejo foi aquele fruto. Criando dificuldades vi o mundo. Era alto, barulhento e mesmo com a câmera lenta tudo passava rápido demais.
Conheci lugares que ficaria bem mais que uma noite - mas sempre somos obrigados a voltar no lugar do qual não fazemos parte, pelo sangue apenas, pelo compromisso que um deus nos depositou, nos deixou. Faria mais sentido viver com roteiros, sabendo de antemão quem nos iria derrubar, nos trair. Reparei na camada que eleva as propagandas assim como os frutos - agora até a árvores e meus sonhos ando alcançando; o desespero não bate e na padaria vejo gente fazendo gestos dos quais só eu faria, tanto numa mesa de jantar ou fazendo casos.
Me dei conta no momento que vi passar amigos e não decidi falar de coisas que nem eu e nem ele entenderia muito bem, não tanto como na minha cabeça, poupei muita gente da melancolia - afirmei ao mundo que seria outra tarde boa de quinta-feira e que amanhã seria um dia como qualquer outro. Pelo mesmo motivo não leio revistas e não assisto mais jornais. Aprendi que o desejo que sentia do fruto no alto era nada mais que obter um norte, um guia que me fizesse voltar todos os dias e descansar, para no outro acordar e ter algo que me faça sair da cama, sair automaticamente e endireitar a vida dos outros, por vezes não sei o que agora faço da minha, que os anos passem logo. Que algum deus ou alguma mitologia faça-me andar, ver nos amigos o que eles enxergam em mim de mais memorável e acreditar de novo, agora não mais sentimental - e tendo sobrenomes exóticos confio no estranho para decidir os dias que me andam faltando, logo eu consigo aquele fruto.