MEIA-LUZ

foi por entre as coxias da vida que me criei

no breu das laterais longe da rainha e do rei

nessa berlinda fuliginosa das horas no avesso

disfarçado dos chumbos espessos do nevoeiro

foi vivendo quintas em quartas terças em sextas

na mentira profunda de fingir saber o que não sei

no meio da guia de confissões fakes e dos silêncios

das cartografias do dinheiro e dos seus interesses

foi na frágil esperança de ter o que eu nunca terei

e do verso inútil que jamais será o que dele anseei.