OUTRO ÂNGULO

Mais um dia se esvai

Entre as horas inquietas

De um mês que se inicia

Tudo caminha pro fim

E olha que mal começamos.

Tudo agoniza na dor

No dissabor

Na falta de amor

Não há mais perdão

Nem compaixão

Não há mais tempo

Pra toda essa falta de tempo.

Valores invertidos

Padrões mal cheirosos

Corações regidos pelo ódio

Da avarenta ganância em ascensão.

Puxa-se o gatilho

Da desumanidade

Mata-se a sangue frio

A coragem

Instalam o medo

O caos

Manipulando poderes

Sem piedade.

Mal começamos

E tudo já está mal

Muros altos

Cercas afiadas

Corações sem palpitações

Até a lua escondeu seu brilho

Com medo do saque noturno

De um céu sem cor.

Não há uma mão estendida

Sequer um sorriso amigo

As estrelas se lançaram ao mar

E os montes se esconderam.

O caráter corrompido

Impera

De nariz erguido

Olha seu umbigo

Regalando-se na maldade.

— Nada de mal eu fiz

Ele diz

Mas os olhos de Deus

Percorrem a terra

Nada lhe está oculto.

Após o plantio

Vem a colheita

E nem sempre lhe é bendita

O mal que semeia

Também se colhe

Ácido é

O tempo da arrecadação.

Que os céus nos protejam

Que nossos olhos

Estejam abertos

E os ouvidos atentos

Ao clamor da aridez

De uma terra em chamas.

Não corrompa sua essência

Por 30 moeda de prata

Não se renda aos figurões

Da máfia

Ainda que ostentem glamour

São verdadeiros sepulcros

Caiados.

Embora os dias corram

Se lançando ao precipício

Abra as asas da esperança

Cruze a fronteira da indiferença

Remova a pedra

Não seja mais um

Sísifo

Na multidão.

Xícaras de Prosa
Enviado por Xícaras de Prosa em 03/11/2020
Reeditado em 05/04/2021
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