Cidade
Como um cego que sozinho segue seu caminho pelo tato
Certo cara, solitário, costuma seguir o rumo do bar
Guiando-se pelo cheiro de destilado que sente no ar
Acostumado a queimar com álcool seu dinheiro escasso
Que ganha de servente de pedreiro,
traçando massa o tempo inteiro
Sob o sol que racha o solo e a cara,
e a sola da sandália, e resseca a boca;
Que rechaça o suor da ressaca
Em lágrimas arrancadas à força
Pra traçar o pão próprio de cada dia,
E a alegria pouca:
O cigarro de muita serventia
A cana que mo(v)e o trabalhador
No desejo de afogar o cansaço e a dor
nos quartinhos de conhaque de alcatrão
E nos copos cheios de vinho
Sentando-se na mesma mesa
que outros tantos beberam grades de cerveja
Na espera... na esperança de abrasar o frio
Que abraça os corpos dos muitos cidadãos
dessas cidades cheias de pequenas grades e grandes vazios...