DEIXA PRA LÁ

Te peço, faça isso não,

nem se eu quisesse pintaria teu retrato,

não tenho pra isso, mão,

é loucura me querer pintor abstrato,

um Picasso, Pollock ou até um grão

de Modigliani, é que eu sou, de fato,

um pintor de paredes, de coração...

Te peço, deixa isso pra lá,

querer que eu escreva um conto falando de você,

o máximo que eu faço é rabiscar

uns versinhos meia-boca, cê vai ler,

só fui agraciado com talento popular,

quem dera por no papel um best-seller,

um Rubem Braga, quiçá um Moacir Scliar,

então, mulher, se contente com esse escrever,

o meu amor escrito em versos é o que vou te dar...

Te peço, esquece essa fita de me fazer cantor,

sou mesmo de sussurro, sem vozeirão e cantoria,

esse negócio de eu me tornar famoso tenor,

veja lá, tô cheio de pigarro, esqueço a melodia,

nem me fale que me pareço com o Antenor,

deixa eu voltar pra roda doida que me fia,

sem Pavarotti, Boscheli, ou qualquer cantor,

o que te dou são versinhos que parecem poesia...