PEDRAS
Com o tempo se aprende a mastigar pedras,
As que se escondem no feijão,
Num pão francês,
Num punhado de arroz.
Pasme!
Num sorvete.
A pedra pode ser de gelo.
Com o tempo se percebe que pedras possuem mais que dureza,
Solidez,
Firmeza,
Consistência.
Pedras possuem gosto,
Cheiro,
Cor,
Tato,
Tamanho,
Tempero especial de terra ou areia.
Algumas pedras a gente até cria,
Rim,
Vesícula.
As que surgem após acordarmos de uma boa noite de sono.
Pasme!
Até na orelha, por cera ou outro motivo.
Algumas pedras caem,
Na cabeça.
No pé.
No ombro.
Fora de mim.
Qualquer lugar pode ser campo de pouso de pedra.
Seja granizo ou pedra mesmo.
Eu mesmo já atirei pedras.
No córrego.
No telhado.
Num passarinho. Errei.
Em alguém quando criança.
Em alguém já adulto.
Já jogaram em mim também.
Tem pedra de todo o tipo.
Tijolo.
Cascalho.
Concreto.
Bloco baiano.
Cerâmica.
Pasme!
Até pedras preciosas.
Safira.
Esmeralda.
Rubi.
Amolite.
Diamante.
Mas pedras são comestíveis sim.
Duras?
Sim, mas comestíveis.
Ruins de engolir?
Sim, mas engolíveis.
Péssimas para digerir?
Sim, mas digeríveis.
Horríveis para expelir?
Sim, mas expelíveis.
A pedra está em todo canto.
Na prosa, na poesia, na idade, na doideira, no cinema.
Tem Harry Potter, tem Drummond, tem doido varrido e de pedra, tem pré-história, tem ditado. Água mole em pedra dura...
Eu ponho na boca.
Deixo que rocem na língua, até me acostumar com a textura.
Deslizo asperamente ela em cada dente, como um dente novo.
Encho a boca de saliva,
Ou sem saliva mesmo.
Preparo a garganta.
Respiro fundo,
E a engulo.
Lentamente.
A grande pergunta é:
Quem é que foi o idiota que teve a idéia de que pedras são comestíveis?
Eu hein.
Até parece que fumei uma...