PARANÓIA POÉTICA OU POEMA DA PÁGINA SEGUINTE
Há tantos poemas
quanto páginas seguintes
mesmo as rabiscadas
as rasgadas
jogadas pela sala
as sujas no lixeiro
as quietas nos cadernos
Os poemas fênix latejam nas cinzas das páginas queimadas
Há poemas no banheiro
na cozinha
no quarto
sob a mesa
sob a cama
por dentro das paredes e dos canos
Há poemas fantasmas
e poemas abortados
outros atropelados na estrada
nas retas e nas curvas
Há poemas dentro da bolsa
conversando com as quinquilharias
Há poemas presos na garganta
e poemas sofrendo na faca
que corta o pão sagrado
Há versos em fila esperando a porta se abrir
para invadir a sala
São tantos...
São mais do que toda a matéria
que compõe o Universo
Os poemas se abancam nos bares
nas esquinas
nas janelas dos velhos cabarés
nos sobrados e nos palácios
Como são volúveis os poemas!
Os poemas são depravados e mulherengos
São santos e também fingidos
intencionais
Cuidado com os poemas
Eles são devassos e criminosos
Os olhos do poema da página seguinte me esperam
impiedosamente
25/11/2005