DEUSA MARÍTIMA

Te vejo a velejar, mar adentro,

romper ondas, buscar o sustento

no reino marinho, mirar o longe,

ver o sol dar-te a cor do bronze...

Mais amar o mar e a ele se dar,

tanto que quase estátua de sal,

a brisa marítima a romper o ar,

tua alma preciosa, leve, natural...

O amor não finge, nem interpreta,

sua elasticidade a si oferta,

quieto como um leopardo faminto,

pergunte a ele, ele dirá: não minto...

Um dia, manhã de sol, céu sem ruínas,

a linha atinge o fundo, o mapa desvendado,

o destino não se traduz em esquinas,

nau repousa no colo do mar descansado...

Te vejo repleta de mariscos, niveas pérolas,

deusa marítima de escravos sem escravidão,

saístes ilesa de tempestades, de furiosa névoa,

de Netuno a escolhida, deusa de doce coração...