O POBRE NOBRE
Sou pobre feito um nobre expulso do castelo...
Uma mão na frente e outra atrás,
larguei do vinho e dos petiscos,
me tornei simples e assim fico...
Andava eu pela feira, fazendo nada,
a cumprimentar e beliscar umas frutas,
num giro de cento e oitenta graus,
dei de cara com a moça mais linda,
numa reverência de pobre nobre
conquistei o seu olhar, de feliz delicadeza,
fiquei sem ter para onde ir,
a rodeava, a seguir...
Até que o peso da sacola,
como se o amor me desse uma esmola,
fez com que eu me ajudasse
sendo ajudante do que ela precisasse,
me dispus e ela aceitou de pronto,
como fosse eu um belo potro
e ela me dissesse, eu monto...
O destino tem dessas coisas incertas,
promove encontros sem explicação,
eu, um pobre nobre de alma aberta,
fazendo pouso num belo coração...
Na porta da casa dela, um barraco na favela,
pus as compras no chão, ela disse vá entrando,
reparei numa foto, ela debruçada na janela,
senti abrir as portas do coração, eu ali morando...
A felicidade vive escondida e só aparece
quando o amor tece o mapa dos encontros,
e a alma, de pobre ou de rico, se enternece,
e a gente sente que o coração está pronto.