MEU AMOR
Toma. Esta é a chave da minha vida. Pode entrar.
Não repare na velha mobília. De estimação.
Aqui é onde guardo velhos poemas. Avulsos.
Da infância da minha emoção. Poemas que coram.
São olhares ao acaso. A mulher que passa. Bonita.
Notícias dos flagelos sócias. O barraco que caiu.
Os que se apropriam do dinheiro alheio.
Escrevo sobre seus atos. Nefastos.
Ali. Mais ao fundo. Aquele varal imenso.
É onde penduro os poemas de amor.
Os que tem manchas. São lágrimas.
Alguns livros guardei. Põe. Faulkner.
Pessoa. Wilde. Dylan Thomas.
As memórias estão naquelas pastas.
Depois de muitos anos perdem a importância.
O futuro é o que deve interessar.
Pensei um dia que o amor era coração.
Bobagem. Amor é cérebro. Coração não pensa.
Amo minha cabeça. Minha cabeça que te ama.
O homem é seu inventor inventado.
Se ele escutasse o silêncio evitaria falar bobagens.
Depois de um certo tempo tudo é igual a todos.
Os ossos são flautas que o amor toca.
Experiente imaginar. Depois faça.
Minha vida não tem portas.
Nem cadeados. Sou claro.
Como os teus olhos.
Meu amor.