Foice
A solidão é minha foice
Eu a arrasto para todo lugar
Ela me massacra
Assim me alivia
Levando à cabo de morte
Tudo aquilo que sinto
E se move em mim.
Mesmo as sombras
Não estão livres de meus golpes
Eu as ataco
E elas caem, morrem
Andando só, vou
Arrastando toda sorte de peso
Toda forma de apego
Meus delitos deliciosos
São agredir-me então
Ver -se num prisma elegantemente doloroso
Aprisionando cacos em que me vejo
Ao chão, à parede, acima do "não "
À direita, esquerda como marchas
Sempre golpeando eu me alivio
Presa em correntes está à minhas mãos
Junto à consciência, ao profundo
As vezes pena de mim sinto
Outras que justo é.
Quem arruinará castelos de cartas
Saberá que inocente é se martirizar
A foice é uma ferramenta
Tão usada por agricultores
A algo que eles cultivem
Eu em mim arraso os já cultivos
E maduros desejos
Sentires que me abarcam numa negra vala.
A minha capa preta é tão nítida
Que se arrasta por onde ando
Me sinto sobrenatural
E de fato, a solidão não é?
Incompletude, aforismo, legião despida
Inconsistência, pedra dura, fome
Que pão nenhum mata
Sou eu quem mato
Sou eu quem morro
Aos poucos
Continuamente
Em agonia sem porquês ou perdão.