Foice

A solidão é minha foice

Eu a arrasto para todo lugar

Ela me massacra

Assim me alivia

Levando à cabo de morte

Tudo aquilo que sinto

E se move em mim.

Mesmo as sombras

Não estão livres de meus golpes

Eu as ataco

E elas caem, morrem

Andando só, vou

Arrastando toda sorte de peso

Toda forma de apego

Meus delitos deliciosos

São agredir-me então

Ver -se num prisma elegantemente doloroso

Aprisionando cacos em que me vejo

Ao chão, à parede, acima do "não "

À direita, esquerda como marchas

Sempre golpeando eu me alivio

Presa em correntes está à minhas mãos

Junto à consciência, ao profundo

As vezes pena de mim sinto

Outras que justo é.

Quem arruinará castelos de cartas

Saberá que inocente é se martirizar

A foice é uma ferramenta

Tão usada por agricultores

A algo que eles cultivem

Eu em mim arraso os já cultivos

E maduros desejos

Sentires que me abarcam numa negra vala.

A minha capa preta é tão nítida

Que se arrasta por onde ando

Me sinto sobrenatural

E de fato, a solidão não é?

Incompletude, aforismo, legião despida

Inconsistência, pedra dura, fome

Que pão nenhum mata

Sou eu quem mato

Sou eu quem morro

Aos poucos

Continuamente

Em agonia sem porquês ou perdão.

Ligeia Amanna
Enviado por Ligeia Amanna em 23/10/2020
Reeditado em 23/10/2020
Código do texto: T7094682
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