A PRIMAVERA APRISIONADA NUMA ESFERA DE PLÁSTICO

Parte do que deveriam ser a flores

está lá fora, manifestando a primavera.

Outra parte, colhida grosseiramente,

é mastigada nas engrenagens enferrujadas.

Dessas, obriga-se o significado homeopático,

para causar a empatia pelas essências medianas.

Puro desperdício.

Arrancar das coisas o nenhum significado,

as torna altar de culto a Deus nenhum.

Tantas palavras ainda esperam, há tempos,

para saírem pelo mundo, sendo coisas.

Mas vai-se conformando quem desta casa partilha,

porque tudo o que é caro, raro, imponente e belo,

à gente toda é intolerável como ver o sol que brilha

ao meio dia, quando olhos se voltam ao chão amarelo.

Não culpem às flores pelos engenhos acanhados,

nascidos do óbvio, morrentes no esquecimento.

Por bastarem-se em si, em jardins inesperados,

morte à sanha de quem não contem o sentimento.

Da minha parte, que se mate a turba...

Nenhum interesse pelo que se passa lá fora.

Querem aromas inéditos, um gênio em cada verso?

Que aprendam a contemplar o silêncio

e esse acaso da existência chamado progresso.

EDUARDO PAIXÃO
Enviado por EDUARDO PAIXÃO em 22/10/2020
Código do texto: T7093619
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