A PRIMAVERA APRISIONADA NUMA ESFERA DE PLÁSTICO
Parte do que deveriam ser a flores
está lá fora, manifestando a primavera.
Outra parte, colhida grosseiramente,
é mastigada nas engrenagens enferrujadas.
Dessas, obriga-se o significado homeopático,
para causar a empatia pelas essências medianas.
Puro desperdício.
Arrancar das coisas o nenhum significado,
as torna altar de culto a Deus nenhum.
Tantas palavras ainda esperam, há tempos,
para saírem pelo mundo, sendo coisas.
Mas vai-se conformando quem desta casa partilha,
porque tudo o que é caro, raro, imponente e belo,
à gente toda é intolerável como ver o sol que brilha
ao meio dia, quando olhos se voltam ao chão amarelo.
Não culpem às flores pelos engenhos acanhados,
nascidos do óbvio, morrentes no esquecimento.
Por bastarem-se em si, em jardins inesperados,
morte à sanha de quem não contem o sentimento.
Da minha parte, que se mate a turba...
Nenhum interesse pelo que se passa lá fora.
Querem aromas inéditos, um gênio em cada verso?
Que aprendam a contemplar o silêncio
e esse acaso da existência chamado progresso.