Noturnidades
Eu tenho um apreço pela noite.
Gosto da calmaria que sucede o dia.
A noite nos dá o direito de não pensar.
Apesar do direito, cometemos o pecado.
Não por precisão.
Por esporte.
Eu gosto da noite,
Porque é nela que temos tempo
Para sonhar
Para ser
E para não ser.
Libertamo-nos dos papéis que precisamos sustentar durante o dia.
Eu gosto da noite,
Nela eu conto
E coleciono estrelas.
Faço de conta que a imensidão do céu é toda minha.
E fico ali olhando admirada como quem não tem nada e num instante tem tudo.
Eu gosto da noite,
É nela que costumeiramente a inspiração me faz visita.
Que meu corpo anda livre pela casa.
Que o silêncio me abraça, silêncio externo, digo.
E que imagino...
Corpos se fundindo.
Mentes barulhentas aturdindo.
Mundos novos, possíveis e reais.
Eu gosto da noite,
e de suas noturnidades.
Tudo parece tão mais possível quando anoitece...