MARIA, a ave
A ave, Maria, nome dado pela sua dona,
ouviu a conversa sobre sua libertação,
pensou e repensou, por quê a separação?,
pressentiu não haver resposta a esse axioma...
A manhã que chega traz agonia e desejo,
o barulho da portinhola se abrindo, o medo,
ou a desistência da despedida, o ficar,
partir é deixar tudo o que se aprendeu a amar...
Os passos da senhora em direção a gaiola,
o coração de Maria, a ave, bumbo apreensivo,
imagine saber-se livre, só, no mundo, lá fora,
nunca imaginou sentir a liberdade um castigo...
As mãos abrem a portinhola e a escancara,
a voz suave a atinge, lhe diz, é hora de voar,
o que fazer?, esperar isso de quem sempre amara
ou se largar nos braços do vento, se entregar?
Minutos intermináveis, a espera e a pior estação,
olhos nos olhos, uma silenciosa e doce poesia,
entendendo, fecha a gaiola e abre o coração,
respira fundo, agradecida, a amada ave, Maria.