PORTÕES
Ela adentrou os portões dos seus anseios mais secretos
E aos poucos
Deixou-se seduzir pela magia do novo
Pelas palavras doces do desejo
Pelo andar sensual do pecado
E antes que percebesse
Foi sugada pela escuridão de suas próprias escolhas
Quem diria!
Logo ela que amava o brilho da luz.
Em seu peito
As batidas ganharam um ritmo gostoso
O convite era apetitoso
Seus pés se apressaram a prová-lo.
Ela podia sentir o gozo em seus lábios
E na pele
O toque aveludado do prazer.
Como era saboroso o mel.
Seduzida pelo néctar da esplendorosa flor
Despiu-se da luz
E sem pudor
Entregou-se a luxúria
Satisfazendo seus insaciáveis caprichos.
Em meio ao breu
Não havia fagulha de luz
Nos feixes secretos de sua alma
Em suas janelas haviam trevas
Requintadas com sentidos aguçados.
Em cada despetalar da flor
O paladar se dissolvia
Como poeira no universo
Trincando os seus lábios com açucarados favos.
Ao longe ela ouvia o seu grito
Sussurrando ajuda
Impregnado em seu âmago
Mas ela o ignorava.
– "Ah, deliciosa é a neblina inebriante do prazer que abraça-me e beija-me com um carinho infindo"
Dizia ela
Mal sabia que estava à um passo do abismo
Onde vozes clamam por um socorro
Muitas vezes
Tardio.
Oh, pequena menina
Meu coração se parte ao vê-la toldada por tamanha escuridão
Eu grito o seu nome
Enquanto minhas mãos tateiam o breu do teu olhar
A procurar-te.
Tape os ouvidos, minha querida
Antes que o fio de prata se rompa
Não ouças mais o canto da sereia
Volte a vestir-se de luz
Os céus anseiam pela sua presença.
Vem, pequena guerreira
Segure a minha mão
Deixe-me ajudá-la a cuidar do seu jardim
Sei que o retorno é árduo
Ainda sim, não é impossível
Apenas venha.
Vista-se de sol
E deixe-me ser suas asas.