PORTÕES

Ela adentrou os portões dos seus anseios mais secretos

E aos poucos

Deixou-se seduzir pela magia do novo

Pelas palavras doces do desejo

Pelo andar sensual do pecado

E antes que percebesse

Foi sugada pela escuridão de suas próprias escolhas

Quem diria!

Logo ela que amava o brilho da luz.

Em seu peito

As batidas ganharam um ritmo gostoso

O convite era apetitoso

Seus pés se apressaram a prová-lo.

Ela podia sentir o gozo em seus lábios

E na pele

O toque aveludado do prazer.

Como era saboroso o mel.

Seduzida pelo néctar da esplendorosa flor

Despiu-se da luz

E sem pudor

Entregou-se a luxúria

Satisfazendo seus insaciáveis caprichos.

Em meio ao breu

Não havia fagulha de luz

Nos feixes secretos de sua alma

Em suas janelas haviam trevas

Requintadas com sentidos aguçados.

Em cada despetalar da flor

O paladar se dissolvia

Como poeira no universo

Trincando os seus lábios com açucarados favos.

Ao longe ela ouvia o seu grito

Sussurrando ajuda

Impregnado em seu âmago

Mas ela o ignorava.

– "Ah, deliciosa é a neblina inebriante do prazer que abraça-me e beija-me com um carinho infindo"

Dizia ela

Mal sabia que estava à um passo do abismo

Onde vozes clamam por um socorro

Muitas vezes

Tardio.

Oh, pequena menina

Meu coração se parte ao vê-la toldada por tamanha escuridão

Eu grito o seu nome

Enquanto minhas mãos tateiam o breu do teu olhar

A procurar-te.

Tape os ouvidos, minha querida

Antes que o fio de prata se rompa

Não ouças mais o canto da sereia

Volte a vestir-se de luz

Os céus anseiam pela sua presença.

Vem, pequena guerreira

Segure a minha mão

Deixe-me ajudá-la a cuidar do seu jardim

Sei que o retorno é árduo

Ainda sim, não é impossível

Apenas venha.

Vista-se de sol

E deixe-me ser suas asas.

Xícaras de Prosa
Enviado por Xícaras de Prosa em 17/10/2020
Reeditado em 06/04/2021
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